Rio - Não é segredo para ninguém que o presidente tem feito de tudo para acabar com a pobreza no país, mas ninguém sequer imaginou que, pra isso, ele chegasse ao ponto de tentar acabar com os pobres.
A pandemia exigiu, todos nós sabemos, algumas decisões difíceis do governo, mas nenhuma foi mais angustiosa - para os pobres - do que a que teve de ser tomada pelo presidente Bolsonaro essa semana.
O governo está procurando encontrar uma solução justa para resolver o problema de falta de dinheiro. E, embora tenha havido escassez de dinheiro, nos últimos meses, não tem havido falta de ideias para consegui-lo.
A última reunião entre o presidente Jair Messias Bolsonaro e o ministro da Economia Paulo Guedes dá, mais ou menos, uma ideia do que está sendo tramado no Palácio do Planalto.
- Guedes, precisamos reduzir a população se quisermos salvar a economia e garantir a minha reeleição. O novo ministro da saúde não chega nem aos pés do Pazuello. Achei que, com ele, o número de mortes iria triplicar.
O ministro da Economia ponderou:
- Mas, presidente, o Queiroga está fazendo o possível, já chegamos à marca de 3.769 mortes diárias.
- É pouco - disse o presidente - precisamos eliminar os pobres, invisíveis e informais para diminuir os valores do auxílio emergencial.
- Presidente, o senhor já baixou o auxílio emergencial de 600 para 150 reais; é sóesperar um pouco que os pobres vão começar a morrer, naturalmente.
- Não temos tempo para isso daí - disse Bolsonaro - as eleições estão chegando. Quero que você me apresente um plano de urgência para acelerar o número de mortes de pobres, taokey?
O ministro coçou a cabeça e sugeriu:
- Que tal acabarmos com o programa ‘Farmácia Popular’, criado em 2004, pelo ex- presidente Lula. Atualmente, o programa tem um gasto para o governo de cerca de R$ 2,5 bilhões. Com sua extinção esse valor seria direcionado para o Renda Brasil, e assim acabaríamos, também, com o Bolsa Família, outro programa do Lula.
- Ótima ideia, Guedes! Assim, matamos dois coelhos com uma caixa d'água.
- Cajadada, presidente. Ca-ja-da-da.
- Ou isso.
Antes que chegassem aos beijos, com tanta alegria, o almirante Flávio Augusto, secretário especial de comunicação do governo apartou:
- Mas, presidente, a Farmácia Popular está em quase 3.500 municípios e atende 21 milhões de brasileiros. Pessoas que não têm condições de pagar pelo medicamento e, por isso, muitas vezes interrompem o tratamento. Atualmente, o programa oferece 35 medicamentos com descontos que chegam a 90% do valor, sendo 20 deles totalmente gratuitos. O que essas pessoas vão fazer? São pessoas que sofrem de hipertensão, diabetes, asma, doença de Parkinson, glaucoma, entre outras moléstias; essas pessoas vão morrer.
- Você chegou a essa conclusão sozinho? - perguntou o presidente. - Guedes, o que você acha de fazermos uma grande campanha de marketing anunciando o fim da Farmácia Popular e a criação do Renda Brasil?
- O senhor acabou de gastar R$1,3 milhões em ações de marketing com blogueiros apoiadores do seu governo, não acho que seja uma boa ideia gastar mais dinheiro com propaganda, em plena pandemia.
- Humm!
- E depois - disse o secretário -, com o fim da Farmácia Popular, o que o senhor vai fazer com os R$ 250 milhões que o Ministério da Saúde prevê gastar para oferecer hidroxicloroquina e azitromicina no programa?
- Isso daí já é outra ‘cuestão’. O ministro Queiroga vai ter que dar um jeito de distribuir o “kit-covid” para a população. Não podemos parar com o tratamento precoce.
- Presidente, enquanto o senhor quer acabar com a Farmácia Popular, em meio a pandemia do covid-19, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, aumentou de 50 mil para 135,4 mil o valor do reembolso de despesas de assistência com a saúde dos parlamentares, um aumento de 170,8%. Houve muitas críticas contra o aumento, não somente por parte da imprensa, mas também por parte dos pobres, que ficaram bastante zangados.
O presidente amarra a cara:
- O que é que eles querem que eu faça? Que deixe os parlamentares morrer sem assistência, em meio a pandemia?
- Presidente, os parlamentares já tem plano de saúde com cobertura total e um departamento médico dentro da Câmara, para casos de urgência.
O presidente olhou para o ministro:
- Guedes, vê se consegue meia dúzia daqueles médicos cubanos para a população.
- Vou tentar - disse o ministro - mas não posso prometer.
Comentários