São Paulo - A viagem para São Paulo foi tranquila. Só o uso das máscaras pelos passageiros e comissárias de bordo dizia que nem tudo naquele voo estava normal.
As normas de segurança nas aeronaves também mudaram. A saída da aeronave se deu fileira por fileira. Saímos do avião devagar, cada passageiro por vez, sem aglomeração no corredor, como antes.
O tempo na cidade de São Paulo estava firme. Máxima de 27 graus. Ventava e o ar estava espesso e úmido, porém, bem mais fresco que no Rio de Janeiro.
Lá fora, na área de desembarque do aeroporto, as pessoas se abraçavam e apertavam as mãos, sem, aparentemente, se preocuparem com o vírus.
Logo depois do portão de desembarque um homem com aparência albina, com o telefone celular nas mãos me oferecia uma corrida - Precisa de Uber, senhor?
Tem vários deles espalhados pelo aeroporto. São taxistas disfarçados de Uber. Parecem Uber, mas com preço de táxi. Por Deus! Fuja deles como do demônio! Evite-os.
O albino me seguia pelos corredores.
- É o mesmo preço do Uber, insistiu. O senhor vai para onde?
- Moema, disse.
- Quarenta reais!
- Merda, eles são caras de pau. Querem bater sua carteira, limpar você e tirar cada maldito centavo que você tem.
- Do que diabos você está falando? Isso é um assalto?
O sorriso em seu rosto havia desaparecido.
Pedi o Uber pelo aplicativo. Chegou em 3 minutos. Os motoristas de táxi ou aplicativos são iguais em qualquer cidade. Adoram conversar.
- O tempo está bom, não é? O senhor está na cidade a passeio?
- Não, eu disse. Estou a trabalho.
- Sim. Ele olhou minha bolsa de couro com novo interesse. O senhor é vendedor?
- Não, respondi. Sou jornalista.
Na intenção de reduzir o risco de contágio pelo coronavírus, o motorista do aplicativo improvisou uma espécie de “cabine”, utilizando plástico transparente para isolar o passageiro do motorista, com um espaço para a passagem do dinheiro da corrida, como os que já existem em Nova York, Pequim e outras localidades da China.
Agora, cruzando a cidade em um Uber em direção ao hotel, observei a cidade e seu trânsito caótico. A corrida do aeroporto de Congonhas até o hotel deu oito reais e cinquenta centavos. Dei uma nota de dez.
- Fique com o troco.
Em quinze minutos eu já estava na recepção do hotel fazendo o check-in.
- Bom dia! Bem-vindo ao Estanplaza! - disse a simpática recepcionista.
Dei de ombros.
- Tenho uma reserva em nome de Ediel Ribeiro.
A recepcionista acenou em aprovação.
- Apartamento 1003 - ela me entregou o cartão eletrônico e avisou. "A senha do wi-fi é seu último sobrenome". Agradeci e peguei o elevador para o décimo andar. O hotel também parecia estar preparado para receber os hóspedes durante a maldita pandemia. Todos os funcionários usavam luvas e máscaras de proteção. Havia álcool-gel na recepção, nos elevadores, restaurante e nas áreas comuns.
Venho aqui todos os meses e deixe-me dizer uma coisa que aprendi - esta é uma cidade que sabe receber às pessoas. São receptivos e atenciosos. Pelo menos comigo, sempre foram.
Abri o jornal Folha de São Paulo que peguei na banca de jornal do aeroporto e li a manchete da primeira página: “Covid-19 atinge a marca de 1 milhão de mortos no mundo.” “No Brasil já são mais de 140 mil mortos”. E quanto mais eu refletia sobre esse fato, mais isso me dava medo. O mundo suportaria tanta fome, doença, mortes?
Entrei no quarto. Era amplo. Na sala, um sofá confortável e uma escrivania de madeira. Liguei a TV, peguei uma Heineken no frigobar e caí de costas na cama, tentando me concentrar no noticiário da CNN.
(continua…)
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