Coluna

ENQUANTO CAMINHA UMA MULHER

Mulherengo é aquele homem, dizem as mulheres, que anda atrás de todo rabo de saia. E se uma mulher lhe sorri na rua, não lhe passa pela cabeça que ela pode não estar sorrindo para ele, muito provavelmente, mas porque naquele dia saiu de casa contente consigo mesma, absorta em suas vitórias, feliz porque seu cabelo está como sempre quis, encontrou a roupa que mais a agradou, se descobriu mais bonita no espelho do que sempre, ou, simplesmente, se livrou de um traste que lhe pegava no pé, e não em outros lugares desejados, e a última coisa que passa em sua cabeça é encontrar um outro traste com traços piores ou desajeitados.

MULHER CAMINHANDO PELA CALÇADA
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É difícil imaginar um ser que tenha dentro de si tantas funções; amante de outros homens e mulheres ... difícil? Nem tanto. Qual a mulher que sai de casa? A amante, a namorada, a mãe (de pequenos homens e mulheres ainda em formação), a aventureira, a solitária, aquela que busca uma companhia, seja feminina ou masculina, que venha se encontrar com seus dilemas, um ouvido à disposição, ou simplesmente um rabo de saia à procura de suas soluções e à flor da pele as emoções ou a ilusão?

E quando se dispõe a ser presa fácil, enchendo de brios aquele que se diz conquistador de conquistas disponíveis, ditas em alto e bom som em roda de amigos, na contação das habilidades, não sabe ele que quem define o fácil e o difícil é o outro lado, tido como cheio de fragilidades.

Para aqueles que se insinuam como conquistadores e sabem que a batalha não é coisa que esteja no papo, e que seus galanteios, graças depois de olhares de soslaio são apenas conhecedores de caminhos, atalhos de fácil acesso que proporcionou a suposta presa prenhe de carinhos.

Quando se cruzam, homens e mulheres, quando se olham, se olham de formas diferentes. O do homem, apesar da pretensa superioridade, é de angústia, o da mulher de falsa inferioridade, é de escolha.

E, pensando bem, é muito melhor ser o escolhido entre tantos, do que se achar aquele que dá o bote, e o ganho. É muito melhor ser fisgado pela boca, pelo olhar, pelo encanto, e desfrutar como poucos de um corpo desconhecido e intrigante.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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