O ex-juiz federal e atual governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que realiza política de abate na segurança pública - mais de 1.500 pessoas foram mortas por agentes do Estado, de janeiro a outubro -, declarou que “não tenho bandido de estimação”. Ele se manifestou depois da prisão do PM Carlos Vinícius Gomes do Nascimento, o Miojo, 28/11, integrante de uma milícia e que trabalhava no Palácio Guanabara, sede do Poder Executivo do Estado do Rio de Janeiro. No dia seguinte, 29/11, outros sete PMs do setor de Inteligência da corporação foram presos sob a acusação de extorsão, organização criminosa, roubo qualificado e concussão, que é denominado como crime de vantagem indevida praticado por funcionário público.
Até o final do dia 29/11, sexta-feira, agentes da Delegacia de Repressão aos Crimes contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) vasculhavam vários bairros fluminenses para cumprir 14 mandados de busca e apreensão. E um dos endereços foi o próprio Quartel General da Polícia Militar, na Rua Evaristo da Veiga, no Centro do Rio. As ações policiais contaram com o apoio da Corregedoria da Polícia Militar. E o coronel Rubens Castro Peixoto Júnior, da subsecretaria de Inteligência da PM, o qual os PMs presos eram subordinados, foi exonerado da função. O cargo, agora, é de responsabilidade do coronel Murilo César de Miranda Angelloti, que comandava o Policiamento Especializado (CPE).
Os PMs presos, conforme as investigações que duraram dois meses, se passavam por agentes daquela delegacia especializada para extorquir dinheiro de comerciantes de diversos pontos do RJ. Eles identificavam irregularidades e chantageavam os comerciantes, ameaçando-os de prisão, se não pagassem a propina. Além da extorsão, os PMs roubavam mercadorias dos estabelecimentos. Os PMs presos são Ivan Marques Cunha, Guttemberg Dantas da Silva, Jefferson Rodrigues Batista, Nacle de Souza Oliveira, Roberto Campos Machado, Leslie Cristina Duarte Rocha e Victor Mangia. Em um dos endereços vasculhados, policiais apreenderam R$ 40 mil reais escondidos dentro de um coturno (bota) de um dos PMs. Relógios, roupas falsificadas e duas armas também foram apreendidos, além de imagens do circuito interno de câmeras dos estabelecimentos comerciais. Tais gravações eram retiradas dos estabelecimentos para evitar as provas contra os PMs que praticavam extorsão.
Em nota oficial, a Polícia Militar manifestou que “é interesse da Polícia Militar identificar e expurgar policiais que manchem a honra da corporação; e a Corregedoria Geral da Polícia Militar acompanha toda a ação e tomará as medidas cabíveis pelas condutas dos envolvidos no caso”.
Sobre o caso do PM Miojo, que trabalhava no Palácio Guanabara e integrava uma milícia, o promotor público Fábio Correa, responsável pela denúncia, informou que o policial militar é lotado no 39º BPM, em Belford Roxo. Ele estava há dois meses na Primeira Companhia Independente da Polícia Militar, unidade da corporação que é responsável pela segurança física dos palácios do Governo do Estado do Rio de Janeiro. Não era da segurança do governador Witzel e de sua família.
Miojo integrava a quadrilha que praticava homicídios numa parte da região da Baixada Fluminense e, segundo o delegado Moisés Santana, realizava extorsões, exploração de serviços como “gatonet, mototáxi”, atividades que geravam lucros para o bando criminoso. Os policiais cumpriram 90 mandados de busca e apreensão. Na casa do 2º sargento da PM, Alex Bonfim Lima, foram apreendidas várias armas da quadrilha, monitorada com escutas telefônicas. Em uma das conversas, Nilton dos Santos José, o Velhão, determina a execução de um possível informante: “Meu amigo, resolve; bota a touca na cara e resolve”. Ele e mais 20 acusados ainda estão sendo caçados pela Polícia Civil.
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