Coluna

ADEUS, SON SALVADOR

Rio - Son Salvador jogava nas onze.

Cartunista esportivo dos mais influentes jornais de Minas Gerais, Son Salvador era um dos craques do humor mineiro. 

Nascido, Gerson Salvador Pinto, em Sabará, interior de Minas, em 1949, estudou desenho artístico e ainda jovem veio morar em Belo Horizonte. 

Trabalhava na portaria do Edifício Avenida, na capital mineira.

No mesmo prédio, - no nono andar - trabalhava Ziralzi Alves Pinto, irmão do cartunista Ziraldo. 

Um dia, Ziralzi viu um de seus desenhos e levou para o Ziraldo, no “Pasquim”. 

Son Salvador - por Ediel Ribeiro

Dias depois, Ziralzi voltou e disse para o garoto: “Ziraldo gostou do seu desenho. Mas Gerson Salvador é um nome grande demais".

O menino ficou sem saber o que fazer:“Mas como eu assino, então?”  

Ziralzi virou-se e disse: “Assina só Son Salvador”.

Depois de batizado, ali na portaria do Edifício Avenida, o cartunista,  já como Son Salvador, começou a publicar num jornalzinho chamado “Oi, Bicho!” e ilustrar panfletos para o Sindicato dos Bancários de Minas Gerais.

Em 1976, indicado pelo amigo Vicente Sanches, levou para o editor do jornal “Diário da Tarde”, na Rua Goiás, três charges.

O editor disse que precisaria de pelo menos 15 charges para avaliá-lo.

“No outro dia voltei com as 15 charges. Fiquei a noite inteira acordado, desenhando”, conta. 

No dia seguinte, sua charge estava na primeira página do “Diário da Tarde”. Começava ali a carreira profissional do cartunista.

Além do “Diário da Tarde”, Son Salvador publicou também no “Pasquim”, “Revista Nacional”, “Superesportes”, “Aqui”e no “Estado de Minas”, onde trabalhou por 43 anos.

Músico nas horas vagas, Son Salvador foi também fundador, junto com os amigos Luiz Mário Jacaré Ladeira, Plínio Carneiro e Paulo Bonome de um dos mais tradicionais blocos carnavalesco da capital mineira a “Banda Mole”.

Irreverente, o baterista contou que às vezes ainda escutava a orquestra de máquinas de escrever que se formava quando todos os jornalistas da redação trabalhavam ativamente em suas reportagens. "Dava seis da tarde e era tra-tra-tra-tra", dizia. 

Multimídia, além de craque no desenho, era bom também no rádio e na TV.

Cronista esportivo, mantinha uma coluna semanal no caderno “Superesportes” e no Jornal “Aqui”. 

Na coluna “Boladas e Botinadas”, nos Diários Associados,  ele conseguia falar da paixão nacional levando sempre no humor e na irreverência. 

Son Salvador era fã do “Pasquim”. Era daqueles fãs que esperavam nas bancas a chegada do semanário carioca. O cartunista lia também “O Bondinho”, uma espécie de “Pasquim mineiro” que publicava charges e cartuns internacionais, onde Son Salvador lia as charges do cartunista francês Wolinski, de quem era fã.

Charge de Son Salvador. (reprodução)

Durante a sua carreira nos Diários Associados, lembrou, ainda, de casos engraçados ocorridos no dia a dia de trabalho, como a vez em que um macaco de circo se sentou entre redatores e a de uma caixa esquecida por um pintor que chegou a paralisar a redação durante a Ditadura Militar, época em que ameaças de bombas se espalhavam pela cidade. 

Os seus pensamentos não ficavam apenas no papel. Son Salvador publicava suas charges constantemente nas redes sociais e no site “Superesportes”.

Produziu no Facebook, ao lado do jornalista Daniel Seabra, videochat em que falava sobre os times mineiros. 

O chargista e ilustrador também se aventurou na TV. Em julho de 2007, assumiu a coordenação do programa “Aqui Esporte”, onde, ao lado de outros jornalistas, discutia futebol e outros esportes.

Antes disso, fez participações nos programas “EM Esportes”, e “Estado de Minas Esporte”. 

As charges e desenhos de Son Salvador também estamparam livros infantis e de contos. Uma das últimas ilustrações foram da capa do livro “Fala (de) Mãe”, do jornalista, radialista e professor, Dimas Lopes. 

Também ilustrou o “A Pescaria”, de Osvaldo André de Mello, que conta a história de Lúcio-sem-pavio, um homem atrapalhado que resolveu sair para pescar.

A graça no traço, a paixão pelo futebol, a generosidade com os colegas, e o sorriso constante, faziam de Son Salvador uma unanimidade entre os colegas de profissão. 

O cartunista faleceu no último sábado,  dia 23 de novembro, em Belo Horizonte.

"É como se a gente tivesse perdendo nossas referências. O Son, durante muito tempo, foi o chargista mais popular da cidade. Ele publicava no Diário da Tarde e a charge era estampada na capa. Tinha uma facilidade em comunicar com o leitor", disse o chargista Lute, editor de imagem do “Hoje em Dia”.

Adeus, amigo.

Ediel Ribeiro (RJ)

709 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários