Coluna

CARTUNISTAS E MÚSICOS

Rio - Vida difícil a de cartunista.

Quando comecei a desenhar e tive meu primeiro cartum publicado, cheguei em casa, todo bobo com o jornal na mão  e falei pra minha mãe: “mãe, eu vou ser cartunista!” 

"Cartomante!!?"

E eu:
"Não, mãe. Cartunista. Desenhista de humor. É isso que eu quero pra minha vida!"

Ela me olhou nos olhos e começou a chorar.

"Poxa, filho, não foi pra isso que eu te criei...Paguei colégio particular, faculdade e você vem me dizer que vai desenhar bonequinhos em jornal! Eu não mereço isso!"

Eu falei: 
"Calma, mãe! Eu vou ser cartunista, não vou ser gay!!!"

Resolvi contar pro meu irmão: 
"Vou ser cartunista!  É isso que eu quero ser!"

E ele: 
"Quer dizer que não vai mais trabalhar...vai virar vagabundo!!!"

Meu pai, foi mais compreensível. Me olhou nos olhos, passou a mão na minha cabeça e disse: "FODA-SE!"

Nunca mais falei com meu pai.

É muito difícil a vida de cartunista. Até pra pegar mulher é uma merda.

Se você é um cartunista e para na areia da praia pra desenhar, só junta criança e velho.

Agora, se você toca um instrumento, qualquer um, junta um monte de mulher gostosa pra te ver tocar.

Invejo os músicos. Principalmente os que, além de tocar, desenham.

E tenho um monte de amigos assim.

Reinaldo Figueiredo é um deles. O cara, além de desenhar pra caralho (Jaguar o considera o maior cartunista do Brasil), ainda toca contrabaixo. É músico do quarteto “Companhia Estadual de Jazz”, um grupo que toca jazz e se apresenta desde 1998.

Aroeira é outro. Um puta cartunista e um puta músico. Cartunista dos jornais "O Globo" e "O Dia", Aroeira ainda encontra tempo para tocar saxofone no “Trio das Quartas”, grupo que toca músicas de Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Chiquinha Gonzaga e outras feras da MPB.

Tem também os gêmeos, Chico e Paulo Caruso. Fui num show dos caras no Museu da República, no Catete, no Rio de Janeiro e fiquei embasbacado: os caras tocam a vera. E cantam. Integrantes das Bandas “Muda Brasil Tancredo Jazz Band”, “Avenida Brasil” e “Conjunto Nacional” eles arrasam. Os dois formam uma dupla afinada. Chico arrasa nos vocais, com aquela voz grave de cantor de ópera. Paulo toca violão e canta canções próprias, todas com muito humor. Para ele, “ A música é desenho para cego”. 

Na banda “Conjunto Nacional”, eles tocam com os também cartunistas Aroeira e Luis Fernando Veríssimo. Não posso falar nada da banda. Quando vi eles tocarem, em 1998, no lançamento do CD “Pra seu Governo”, fiquei “tietando” o Veríssimo que, além de tocar, escreve e desenha bem demais. 

Lembrei do Woody Allen, outro ídolo meu, que também toca saxofone tão bem quanto o Veríssimo e, embora não desenhe, escreve humor como ninguém.

É verdade, música é desenho, mas não só para cegos.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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