Coluna

PESO MORTO

Rio - Como vocês devem saber, o país está à beira do abismo.

A economia afundando, os juros subindo, o desemprego em alta, a educação em baixa. Nunca houve uma balbúrdia como nos últimos meses.

O presidente da República não tem credibilidade nem se empenha para conduzir uma administração dinâmica, austera e consequente para a modernização e o desenvolvimento do país. 

Brasília está parecendo uma cidade sitiada. O povo nas ruas; A oposição se finge de morta; Os partidos da base aliada, não se entendem; Deputados e senadores fingem que estão dormindo para não votarem medidas de interesse do povo.

É indispensável eliminar os privilégios, mas ninguém aceita reduzir os seus.  

Mas, no meio do caos, não é difícil encontrar o presidente, no Palácio da Alvorada, cochilando ou jogando Free Fire no celular. 

Entre um cochilo e outro, para não parecer que não trabalha, o capitão tem “idéias geniais” como, por exemplo: retirar os radares das estradas; abolir o uso das cadeirinhas para as crianças nos automóveis; aumentar de 40 para 60 o número de pontos para a cassação da carteira de motorista infratores...

Numa tarde dessas, depois de um cochilo, o Presidente Bolsonaro estava lendo o livro “A Terra é Plana”, do seu guru Olavo de Carvalho. De repente, virou-se para o Ministro Paulo Guedes e disse:

- Vamos viajar para a Argentina.

- Ótima idéia - retrucou o ministro. Mas o que vamos fazer no país vizinho?

- Vamos ajudar o Macri.

- Mas, presidente, o senhor está preocupado com a crise argentina, enquanto nós estamos cheios de problemas aqui? O que o Congresso Nacional vai dizer quando o senhor aparecer na TV argentina sugerindo soluções para os problemas dos nossos hermanos?

- Ao contrário da maioria dos presidentes latinos, eu me preocupo muito com os problemas financeiros dos nossos vizinhos, e com sua luta para solucioná-los. A crise de confiança se agrava na Argentina. O peso está em queda livre; as Bolsas no vermelho; e um risco-país que já ultrapassou os mil pontos. O Macri caindo nas pesquisas e a ex-presidenta Cristina Kirchner subindo. 

- Igual aqui - disse o ministro.

- Guedes, você já pensou se a comunista Kirchner vencer as eleições? Tive uma idéia: vamos unificar nossas moedas. Criar o “Peso Real”. 

- Presidente, a moeda deles está mais desvalorizada que a nossa. Em que isso ajudaria o Brasil?

- Sei lá, mas acho que o Macri ia gostar. 

- Presidente, o senhor foi eleito para defender os interesses do país.

- Grande coisa! Já estou começando a ficar cheio de ver você passar o dia todo pensando só no seu umbigo.

A notícia de que o Real e o Peso virariam uma moeda única, provocou as mais variadas reações no Congresso Nacional.

 - O presidente tem um milhão de outras coisas com que se preocupar - disse um representante do Centrão.

- Quero meu salário em dólar - gritou um congressista.

- O que eu faço com os reais que guardei debaixo do colchão? - quis saber outro.

Houve uma correria generalizada no plenário. Rodrigo Maia deu por encerrada a sessão. 

- O que está havendo, Maia? - quis saber um secretário.

- Estão todos correndo para as casas de câmbio para trocar seus reais por dólar, antes que eles virem “pesos mortos”.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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