Rio - O presidente Bolsonaro tem viajado tanto que o Palácio do Planalto já está pensando em lançar o programa “Minhas Milhas, Minha Vida”.
Em menos de cinco meses, o Itamaraty já gastou 13 milhões com as viagens presidenciais ao exterior.
Jair Bolsonaro, já visitou a Suíça, Estados Unidos - duas vezes - Chile, e Israel. E já está com passagens compradas para China, Argentina e Japão.
O Itamaraty está tão preocupado com os gastos da presidência com as viagens ao exterior que o porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, divulgou uma nota pedindo que todos os funcionários do Palácio do Planalto entreguem seus passaportes.
A cena passa-se na sala do presidente, em Brasília. O porta-voz chega até a mesa do presidente e diz:
- Presidente, preciso que me entregue seu passaporte.
O presidente pergunta:
- Meu passaporte? Pra quê você quer meu passaporte, Otávio? Eu tenho uma viagem marcada para a China, nesta quarta-feira. A Michelle, você sabe, adora o bolinho de arroz deles.
O porta-voz deu de ombros.
- Outra viagem, presidente!?
- Um país se faz com homens e aviões, Otávio.
- Homens e livros, capitão!
- Lá vem você com essa história de livros. Livros são coisas do passado. Tá vendo esse aparelhinho? - perguntou, mostrando ao porta-voz um leitor de texto digital - Aqui tem mais de 5 mil livros. Livros só servem para juntar poeira e traças.
O porta-voz atende o celular e depois se vira para o presidente:
- Presidente, o Itamaraty acaba de me informar que sua comitiva tem mais de 50 pessoas. Pra quê tanta gente, presidente? A China não cabe mais ninguém. São mais de 1,38 bilhão de chineses se acotovelando. Para sua comitiva entrar na China, 50 chineses terão que deixar o país. A China está com a lotação esgotada. Tem gente caindo no mar. Tem tanta gente no país que, agora, se você comprar um iPhone leva de brinde um chinês, no lugar do manual de instrução.
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Concluiu:
- E depois, presidente, o Congresso Nacional tem criticado muito seus gastos com viagens. O país está quebrado, saúde está a beira de um colapso, a educação em níveis baixíssimo, o povo está sem emprego... Não pega bem o senhor ficar viajando pelo mundo enquanto 13 milhões de pessoas não tem nem o dinheiro da passagem para procurar emprego.
As maiores esperanças do presidente, no entanto, são os negócios com os chineses.
- Vamos trazer recursos para o país, Tavinho! . Já que aqui no
Brasil ninguém quer usar nossas armas, vamos vendê-las para os chineses.
- Presidente, os chineses não usam armas nas ruas. A posse de armas na China é estritamente regulada por lei. As leis deles são muito rígidas quanto ao armamento de civis.
- Só faltava essa. Já passei por várias experiências surrealistas, mas um chinês desarmado me parece uma utopia. Como eles resolvem as discussões de trânsito? E quando um esbarra no outro?
- Os partidos que apoiam o seu governo dizem que se continuarmos a gastar como estamos gastando com viagens, isso será péssimo para sua imagem. A primeira-dama também vai? Por quê a primeira-dama precisa ir?- perguntou, o porta-voz.
- Quem vai traduzir meu discurso para os chineses surdos?
- Mas, presidente, são só cinco minutos!!
- Por falar nisso...
O presidente pegou o telefone e começou a discar o número da Granja do Torto.
- Tinha me esquecido de avisar a Michelle. Ela odeia ser pega de surpresa.
- Querida? Arrume as malas, vamos viajar para a China.
- Estão prontas, querido. Ainda não desfiz as malas da última viagem aos Estados Unidos.
- Com que vestido eu vou?
- Sei lá, qualquer um.
Michelle Bolsonaro abriu o closet, olhou com desdém os 300 modelos pendurados e, como toda mulher, gritou: “não tenho nada pra vestir!”
- Então, compre um vestido novo. Vamos, provavelmente, aparecer na televisão, e eu não quero que a mulher do Mourão pareça mais bonita que você.
- Por que o senhor não vai para o Ceará - indagou o porta-voz. - O senhor ainda não foi ao nordeste.
- Tá louco!? Aquele povo não entende o que eu falo.
*Ediel Ribeiro é jornalista e escritor
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