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O FIM DO PETISCO DA VILA

Rio - Fiquei triste com a notícia do fechamento do Petisco da Vila.
 
A Vila já havia perdido, recentemente, o Bar do Costa, a uma quadra dali, na Torres Homem, esquina com a Visconde de Abaeté.
 
Outro ícone da boemia do bairro, o Bar do Costa dividia a preferência dos boêmios da Vila com o Petisco.
 
Era o autêntico pé-sujo. Com paredes de azulejos e ambiente simples, funcionava no mesmo lugar desde 1955, servindo o popular bolinho de vagem (entre os mais de 50 tira-gostos) acompanhado de uma cervejinha sempre gelada.
 
Petisco da Vila - Divulgação
Petisco da Vila - Divulgação

 

Agora, foi a vez do Petisco da Vila, símbolo de Vila Isabel durante mais de 40 anos. Tomei grandes porres lá, enquanto esperava a hora de partir para o Maracanã para ver o Flamengo de Zico, Leandro, Adílio, Andrade e Junior.
 
Famoso pelas variedades de tira-gostos, o bar, reduto de boêmios, sambistas e intelectuais, tinha (para acompanhar um dos melhores chopes da cidade) mais de 70 acepipes no cardápio. Os sanduíches de carne assada, pernil e tender também eram boas opções para matar a fome nas madrugadas do bairro de Noel.
 
Conheci o bar em 74, numa festa que Martinho da Vila e Perna (Antonio Carlos Barromeu, figura lendária do bairro) fizeram - com a ajuda do Cuia, um bicheiro amigo - na porta do bar, na avenida 28 de Setembro para acompanhar o jogo Brasil e Holanda.
 
Mas nem o fechamento do bar, pode apagar da memória dos frequentadores as histórias do Petisco. Lá, Martinho da Vila recebeu de Toninho Gerais a letra de “Mulheres”.
 
Era lá, também (bem no meio da Visconde de Abaeté, em frente ao bar), que Perna promovia sua tradicional ceia de Natal que reunia, no asfalto, todo o Morro dos Macacos.
 
Foi numa mesa do Petisco, também, que o juiz de futebol Cabelada confessou que a pedido de Eurico Miranda apitou um pênalti contra o Cruzeiro. Foi um Vasco x Cruzeiro, em 22 de maio de 1994 . O Yan bateu, e o goleiro Dida pegou. A partida terminou empatada por 0 a 0.
 
Além do Perna e de José Geraldo de Jesus, o Candonga (sambista da Portela), que eram vizinhos do bar, batiam ponto por lá o escritor Carlinhos de Oliveira, o cartunista Jaguar, o sambista Jamelão, o compositor Moacyr Luz e os sambistas Neguinho da Beija-Flor e Martinho da Vila, entre outros.
 
O golpe na tradição, no entanto, pode ser amenizado. De acordo com Amadeu Souza, filho de Manoelzinho, fundador do bar, o fechamento pode ser provisório já que a construtora que alí ergueria um prédio, manteria o bar no térreo.
 
Espero que não tenha sido a saídeira.
 
 
*Ediel é jornalista e cartunista

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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