Coluna

AMANTES

 

Não eram tão jovens, alguns diriam que beiravam a meia-idade, esta idade que não está em lugar nenhum, uma fronteira imaginária onde não se está mais na juventude, tantas vezes louvada, e a velhice, a terceira e inventada idade, que não se sabe a razão de existir, como se as idades fossem escalas, e não apenas o futuro que finalmente chega, como chegará para qualquer um.

Não tinham beijos efusivos, mas se acariciavam na penumbra dos gestos escondidos, em uma timidez que a juventude pede, dos encontros furtivos, de olhares escondidos, como se tivessem, na economia de carícias, uma reserva de febres de amarem e ficar juntos.

As mãos não tão lisas, dessas lisas onde escorrem o prazer, o tocar de pele, mas tinham a sede da procura, que as marcas do tempo são sinais de aprendizado nas linguagens que o coração enternecem. E o admirar os corpos é um ver para além do tempo, é o olhar manso que aprendeu que a luta contra o tempo, a pressa apressada, é perder cada pedaço que um ao outro oferece.       O andar é vagaroso, para que a chegada fique por muito mais tempo distante. Mas, tem o mesmo compasso dos enamorados que se tocam levemente, apenas pelo prazer de sentir o corpo e o olhar ardente que, por vezes, parecem olhares perdidos na paisagem, e que no fundo é a busca pelas palavras que venham a aquecer mais o encontro, com os assuntos, os sorrisos e risos engraçados.

Quando se sentam, para poucos poderiam dizer que, naquele banco, muito tempo atrás tinham jurado. E olhavam, e as mãos passavam, nas marcas que deixaram no tronco de uma árvore. Eram duas flechas e um coração apaixonado, as iniciais ainda gravadas, de forma inteligível, mas que para os dois eram visíveis, no tempo passado e no presente, e guardavam os mesmos significados.

Os olhos ainda brilhavam, desde quando se separaram e a história se perdeu, cada qual para o seu lado, cumprindo as suas rotinas, a lembrar, todos os dias, os motivos do por que não continuaram juntos na vida. E agora comemoravam, finalmente, o dia em que poderiam responder às dúvidas que ficaram em cada um.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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