Cantando para não enlouquecer é título do livro que conta a vida e a trajetória artística da cantora Elza Soares. A publicação foi comercializada no mercado literário através da Editora Globo, lançada em 1998. Já em 2010, o mesmo livro ganhou novo formato e foi distribuído às livrarias pela Editora Planeta Brasil. Há exatos 20 anos depois, a artista tem a vida recontada, agora, no livro Elza. Qual o contraponto entre a primeira e a segunda biografia? Terá segredos revelados, antes ocultos?
Um dos autores da biografia Cantando para não enlouquecer, José Louzeiro, faleceu em 29 de dezembro, ano passado. Coube a ele o texto final do livro, com assistência do jornalista Lenin Novaes, que realizou todos os trabalhos de campo, ou seja, as entrevistas com Elza Soares e a apuração de todas as questões relacionadas às atividades da carreira artística. O livro Elza, de Zeca Camargo, tem lançamento programado para breve, pela Editora Leya.
O Folha de Minas entrevistou Lenin Novaes, colaborador do jornal, com as Crônicas do Athaliba, para esclarecer o público sobre as diferenças entre as duas biografias de Elza Soares.
Tem novas revelações na biografia que será lançada, ocultas na biografia anterior?
Lenin Novaes- Não conheço o texto do livro Elza que, segundo diz direção da Leya, nas palavras do autor “esta é a versão final, definitiva, contada por ela”. Não sei, inclusive, se ele leu a biografia lançada há 20 anos. Também não sei se Elza Soares tem lembrança da biografia que escrevemos, contando com a autorização dela, registrada em cartório, e à qual também é autora. Tudo surge, estranhamente, como novidade, na mídia. Acho que a memória se encaixa conforme a conveniência em contexto fora de época.
Na biografia Cantando para não enlouquecer não se esgotou as revelações?
Lenin Novaes- Vasculhei a vida da cantora de cabo a rabo. Coloquei-a de ponta-cabeça, na ocasião. E não foi fácil. Até porque ela sempre foi desregrada no trato com a sua carreira artística. Não sabia, pela ordem, dos discos lançados, assim como não os colecionava; nem troféus, medalhas, placas e outras condecorações que conquistou. Deixa tudo pelo caminho, liquidando referências.
Como surgiu a ideia da biografia?
Lenin Novaes- Assessorei uma gravadora, no setor de imprensa, inclusive, por sugestão do José Louzeiro, com quem trabalhei no jornal Última Hora. E assinei página sobre música, por alguns anos, no jornal O Fluminense. Tenho relação antiga de amizade com Elza e, após a morte de Garrinchinha (Manuel Francisco dos Santos Filho), o filho dela com o jogador Garrincha, sugeriu a biografia. Levei a proposta do livro ao Louzeiro, que serviria de base para roteiro de show musical e para filme. Ele gostou do projeto e registramos a autorização dela em cartório, ou seja, biografia consentida.
Transcrevi as entrevistas com Elza gravadas em várias fitas K-7. O mesmo método com os demais entrevistados. O Louzeiro organizou o texto, com meu acompanhamento, varando noites no apartamento na Rua Coelho Neto, em Laranjeiras, de frente para o Palácio Guanabara, sede do governo do Rio de Janeiro. Algumas vezes pontuei que deveríamos detalhar na essência os dramas e tragédias vividas por Elza. Mas, ele, contra-argumentava da seguinte maneira: “Lenin, nossa heroína não tem defeitos”.
Quais revelações, então, não foram descritas, contadas no livro?
Lenin Novaes- Bem, acatei as ponderações do Louzeiro, escritor reconhecido por Pixote, Lúcio Flávio – o passageiro da agonia e Araceli, meu Amor, livros nos quais colaborei, junto com o jornalista Jorge Elias de Barros Sobrinho. No entendimento do Louzeiro não era preciso carregar nas pretinhas (o texto foi datilografado em máquina de escrever manual) as tragédias da artista, que falavam por si mesmo. E a própria Elza acompanhou toda a construção narrativa da biografia.
É importante afirmar que não houve supressão, omissão, sonegação dos fatos que a Elza Soares contou à época. Apenas não reproduzimos os dramas vividos pela artista com linguagem sensacionalista. Agora, quando ela conta à imprensa que “mergulhou nas drogas após a morte do filho (Garrinchinha) e que não quer ser retratada como santa”, ela tem que relatar os fatos nos mínimos detalhes. Nada disso foi novidade há duas décadas. E os fatos não foram tratados de forma escandalosa. É ver para crer.
Penso que, nem assim, a vida e a trajetória de Elza Soares se esgotarão nesta segunda biografia, a ser lançada depois de Cantando para não enlouquecer, há 20 anos. Ela surpreende a si mesma, numa perspectiva real para uma terceira via autoral, entre um lapso e outro de memória, quem sabe. Afinal, Elza Soares diz que é a marca da tragédia e está sempre se superando. É verdade.
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