- Alô, Athaliba! Tudo bem? Sei o quanto está sendo difícil escapar dessa onda violenta que assola o Brasil, atualmente. As notícias que chegam dão conta de um mar sem fim de atrocidades na campanha eleitoral à Presidência da República no 2º turno, promovidas pelo candidato que chegou à frente no 1º turno. Cá estou em Lisboa acompanhando a enxurrada de compatriotas desiludidos que busca realizar o sonho de uma vida melhor. O movimento de translado assusta. E me ponho a chorar ouvindo a música “Fado tropical”, de Chico Buarque, quando diz “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal/Ainda vai torna-se um imenso Portugal”.
- Alô, Marineth. A ligação tá ruim. Vou procurar um ponto melhor de sinal. A tarifa é absurda de cara, mas, o serviço, é uma merda. Faz-me lembrar “Bye, bye, Brasil”, também do Chico Buarque. Agora, sim. Pode falar que to ouvindo.
- Pois é, Athaliba. Recebi singela carta da historiadora Anita Leocádia Benário Prestes, filha da alemã Olga Benário Prestes e de Luiz Carlos Prestes, e vou ler para você. Serve de reflexão para tomada de decisão tão importante no momento do voto, dia 28, principalmente para a população de Alucard, que tá dividida. A mensagem é a seguinte:
“Uma avalanche de autoritarismo, de violência e de terror fascista tomou conta do Brasil nas últimas semanas, culminando com a expressiva votação obtida pelo capitão Jair Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais deste ano. É urgente que os homens e mulheres de bem, que não aceitam o emprego da violência como solução para os sérios problemas que afetam o nosso país, se mobilizem e se unam para derrotar Jair Bolsonaro - o candidato da extrema direita, o porta-voz dos torturadores, dos adeptos da discriminação e da violência contra as mulheres, os negros, os índios, os nordestinos, os LGBT, as minorias, os movimentos sociais; o porta-voz dos defensores da eliminação física de criminosos, adultos e menores, de todos que não acatarem suas ideias de exclusão social.
Neste grave momento, em que inexiste no país um movimento popular organizado, o único meio de derrotar o candidato da direita é o voto, no segundo turno, em Fernando Haddad.
Deixemos de lado as sérias restrições que devem ser feitas às políticas até hoje adotadas pelo PT e seus governos, deixemos de lado as críticas que podem ser levantadas a essa candidatura, as antipatias, o ódio disseminado pelos adeptos da violência fascista, e nos mobilizemos pela conquista da unidade de amplos setores nacionais - partidos, sindicatos, associações, movimentos sociais, entidades estudantis - visando derrotar o fascismo, derrotar os inimigos do progresso social e da democracia em nossa pátria.
Todos unidos pela derrota do fascismo! Votemos em Fernando Haddad!”.
- É, Marineth. Anita, com lucidez, que lhe é peculiar, nos chama à razão. Não podemos votar contra nós mesmos. Aproveito para declamar o poema Horizontes cruzados, feito num vôo para Portugal nas celebrações dos 500 anos de descoberta do Brasil. Ainda nos resta um pouco de esperança.
Lá, na poltrona, o cardeal ergue a cruz,
Que no vôo à noite para Portugal conduz,
Viagem de artistas ao colonizador do Brasil
Para exposição de cartuns no ano dois mil.
Será que aquela cruz do lado de lá reluz?
Brilhará no horizonte como fonte de luz?
E o céu que a pátria por aqui nos faz gentil,
Em Lisboa, terá semelhança o azul de anil?
Brasil, sei que o filho teu, destemido e forte,
Com a foice e martelo, segue rumo ao norte,
Construindo um destino de paz e de glória.
Tem no lema “Independência ou Morte”,
Estímulo às lutas que trava até a vitória,
E escreve com suor e sangue tua história.
*Lenin Novaes, jornalista e produtor cultural. Co-autor do livro Cantando para não enlouquecer, biografia da cantora Elza Soares, com José Louzeiro. Criou e promoveu o Concurso Nacional de Poesia para jornalistas, em homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. É um dos coordenadores do Festival de Choro do Rio, realizado pelo Museu da Imagem e do Som – MIS.
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