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O adeus da lenda: Minotauro se aposenta e vai ser embaixador do UFC

Rodrigo Minotauro resolveu se aposentar e não vai mais lutar profissionalmente (Foto: Getty)
Rodrigo Minotauro resolveu se aposentar e não vai mais lutar profissionalmente (Foto: Getty)

Uma das maiores lendas da história do MMA já não será mais vista em ação. Rodrigo Minotauro anunciou nesta terça-feira que resolveu mesmo se aposentar do esporte e aceitar o cargo de Embaixador de Relacionamento com Atletas do UFC.

A aposentadoria, na verdade, era um tanto quanto iminente. O próprio presidente do UFC, Dana White, já havia revelado no começo de agosto que conversara com Minotauro e que o próprio brasileiro falava em parar de lutar após a derrota para Stefan Struve, no Rio de Janeiro.

Uma posição que talvez tenha mesmo tudo a ver com ele. Afinal de contas, ele é responsável por 'revelar' e acreditar em nomes como Anderson Silva e Júnior Cigano.

"Acho que tenho uma grande visão para esses talentos. Trouxe inúmeros talentos e creio que farei ainda mais. Foi assim com o Junior Cigano, com o Erick Silva. Virão muito mais lutadores por aí. Na minha academia, já conseguia isso. Agora, com a estrutura do UFC, a coisa cresce. Estou feliz, pela minha história e pelo novo desafio. Quero fazer um grande trabalho. Estamos numa troca de gerações e espero ajudar nesse momento fundamental para o esporte", disse Minotauro.

"Giovani Decker (presidente do UFC no Brasil), por meio de muitas ligações, me deu essa vontade de continuar no UFC. Conversamos muito e passei a entender melhor as coisas. O Dana White também mostrou essa vontade durante uma conversa após a minha última luta. Agradeço demais o apoio dessas pessoas que são donas do maior evento do nosso esporte", completou.

Aos 39 anos, Rodrigo Minotauro se aposenta com um cartel de 34 vitórias, 10 derrotas, um empate e uma luta sem resultado. Mas mais que números, o brasileiro deixa o octógono como uma verdadeira lenda, colecionando títulos tanto no Pride quanto no UFC, os dois maiores eventos da história do MMA.

O curioso é que Minotauro é, por exemplo, mais novo que Anderson Silva. O problema é que a carreira dele não só colecionou glórias e lutas inesquecíveis, mas também lesões. Desde 2012, por exemplo, ele não consegue fazer mais que uma luta por ano. Foram problemas nas costas, nos joelhos, no ombro...

"Entre 1999 e 2008, fui sempre primeiro, segundo ou terceiro do ranking. Em 2008, senti o corpo começar a reclamar. Em 2009, identificamos que era um problema de quadril. Faço fisioterapia até hoje. E ainda tive outras inúmeras lesões. O corpo reclama. Não consegui mais ter o desempenho físico de antes. São dores que tenho até hoje. Isso acaba pesando", disse.

Minotauro, a lenda

A vida de lutador de Minotauro começo logo aos 11 anos de idade, mas não com uma batalha diante de algum oponente, mas uma batalha pela vida. Ainda criança, ele foi atropelado por um caminhão enquanto brincava com outras crianças em Vitória da Conquista. O motorista do veículo deu ré, não percebeu a presença dos meninos e acabou passando por cima do tórax do garoto, que só não morreu porque um tio anestesista estava muito próximo do local do acidente e conseguiu socorrê-lo com muita rapidez.

Rodrigo teve problemas no diafragma, nas costelas, no fígado, nos rins, nas costas e no tendão de Aquiles. Foram quatro dias de coma e 11 meses internado em um hospital. Quando saiu, ainda ficou quase mais um ano fazendo fisioterapia até conseguir voltar a andar novamente. Depois de uma batalha tão dura pela sobrevivência, vencer as lutas dentro de um ringue não deveria ser uma tarefa tão difícil.

Minotauro já praticara judô quando ainda era criança. Após se mudar para Salvador, passou a treinar boxe com Luiz Dórea, treinador de Acelino "Popó" Freitas, futuro campeão do mundo. Em seguida, Rodrigo começou a treinar jiu-jitsu em uma academia em frente de casa e surpreendeu ao ser campeão brasileiro na categoria pesadíssimo da faixa-marrom. Em 1999, praticamente pagou para fazer a sua estreia no vale-tudo. Os organizadores do evento norte-americano WEF não conseguiram juntar o dinheiro para pagar a bolsa e ofereceram a chance do brasileiro não lutar. Mas ele não quis saber: entrou em ação e finalizou David Dodd.

Dos Estados Unidos partiu para o Japão e construiu uma excelente carreira no Rings, aonde chegou até a ser campeão. Quando entrou no ringue do Pride no dia 3 de novembro de 2001, já sabia o que era a pressão de lutar por um título. No evento de número 17, Minotauro venceu Heath Herring na decisão dos jurados e se tornou o primeiro dono do cinturão dos pesos pesados.

No ano seguinte, Minotauro protagonizaria uma das lutas mais marcantes da história do MMA. O brasileiro usara a prerrogativa de não ter uma cláusula de exclusividade e resolvera lutar em um evento fora do Pride. Porém, os organizadores do evento não gostaram nada de ver um de seus astros nocautear o japonês Sanae Kikuta no UFO-Legend e prepararam uma espécie de punição.

Minotauro teria pela frente um dos mais temidos adversários da época. Com 1,96m de altura e quase 150 quilos de puro músculo, Bob Sapp vinha aterrorizando a categoria dos pesos pesados. Em duas lutas como profissional, usara da força bruta para nocautear dois adversários em menos de três minutos somados.

Mais de 91 mil pessoas lotaram o estádio no dia 28 de agosto. O público presente ficou de pé do início ao fim na luta de Minotauro. O gigante Bob Sapp castigava o brasileiro. Rodrigo tentava usar o jiu-jitsu para escapar da difícil situação, mas o adversário era forte o suficiente para sair de todas as tentativas de finalização. O norte-americano passou os cinco minutos do primeiro round por cima, distribuindo golpes.

O segundo assalto parecia se encaminhar da mesma forma. Minotauro logo foi ao chão e ensaiava a finalização, mas Sapp escapava e dava um jeito de ficar por cima e golpear bastante. Aos quatro minutos, porém, ele caiu em uma armadilha. Em um movimento perfeito, o brasileiro conseguiu passar a guarda, agarrou o braço e se esticou todo para forçar os três tapinhas do adversário. Era a consagração máxima depois de uma luta que parecia perdida.

No Pride, Minotauro só não conseguiu comemorar uma vitória daquele que seria o maior rival de sua carreira. Diante do russo Fedor Emelianenko, o brasileiro perdeu o cinturão dos pesos pesados em 2003, teve uma luta sem resultado no Grand Prix do ano seguinte e ainda acabou mais uma vez derrotado, de novo em uma disputa pelo título.

No UFC, Minotauro precisou de apenas duas lutas para conseguir se tornar o campeão interino dos pesos pesados. O campeão Randy Couture se negava a enfrentar o brasileiro, e Dana White resolveu colocar o cinturão em jogo. Rodrigo foi escalado para enfrentar Tim Sylvia e conseguiu uma finalização no terceiro round para ficar com o título.

O reinado de Minotauro, porém, duraria pouco. Na luta seguinte, Frank Mir se tornou o primeiro homem a conseguir nocautear o brasileiro. Mais tarde, o mesmo Mir ainda se tornaria o primeiro a conseguir finalizá-lo, se transformando em um dos maiores carrascos da carreira de Rodrigo.

Mas o grande problema de Minotauro no UFC seriam as lesões. Depois de perder para Cain Velasquez em fevereiro de 2010, o brasileiro passou por cirurgias nos dois joelhos e também nas costas. Ele chegou a ficar sem andar e era dado como acabado. Como sempre fez em sua carreira, porém, deu a volta por cima para ser um dos grandes destaques do retorno do Ultimate ao Brasil, já em agosto de 2011. Mas sem a mesma condição física não conseguiu escapar dos altos e baixos e de mais lesões nas lutas seguintes.

A aposentadoria vem com três derrotas, diante de Fabrício Werdum, Roy Nelson e o próprio Stefan Struve. Mas três derrotas que ficam muito longe de sequer ameaçar manchar uma carreira tão brilhante.

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