Brasília — A entrada do pastor Silas Malafaia como investigado no inquérito que apura suposta obstrução de Justiça no caso da tentativa de golpe de Estado reacendeu embates entre o Supremo Tribunal Federal (STF) e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. A medida, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, amplia o alcance da apuração e coloca no centro das investigações uma das vozes mais ativas do segmento evangélico ligado à política.
Em eventos públicos, Silas Malafaia não poupa críticas quando ataca o Supremo Tribunal Federal (STF), o Poder Executivo e o Congresso Nacional, e chega a dirigir duras observações mesmo a colegas pastores que não apoiam o movimento em defesa do ex-presidente. Em manifestações como as organizadas na Avenida Paulista, ele chegou a classificar o ministro Alexandre de Moraes de “ditador da toga” e acusou o Judiciário de arquitetar uma “engenharia do mal” contra Bolsonaro.
Ele traça uma estratégia clara: ao declarar publicamente que “tocar em um líder religioso não é uma coisa fácil. A religião que eu sou representa trinta e cinco por cento do povo brasileiro”, Malafaia evidencia sua intenção de exercer pressão institucional amparado pela representatividade junto à comunidade evangélica.
O inquérito, instaurado em maio a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), investiga possíveis crimes como coação no curso do processo, obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Além de Bolsonaro e Malafaia, figuram como investigados o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o blogueiro Paulo Figueiredo.
Segundo documentos obtidos pela Gazeta do Povo e pelo R7, os investigadores analisam se aliados do ex-presidente teriam atuado para influenciar autoridades estrangeiras, principalmente nos Estados Unidos, e tentar pressionar o governo brasileiro com sanções econômicas — uma ação que, para a PF, poderia configurar tentativa de interferir no curso do processo.

Disputa política e narrativa
Para analistas, a inclusão de Malafaia no inquérito tem peso político significativo. Ele é líder de uma das maiores igrejas neopentecostais do país e mantém atuação frequente em defesa de Bolsonaro, tanto nas redes sociais quanto em eventos públicos. Sua presença na investigação pode acirrar o discurso de perseguição política que o grupo bolsonarista sustenta desde as prisões e bloqueios de bens realizados após os atos de 8 de janeiro de 2023.
Em vídeo publicado na noite de quinta-feira (14), o pastor afirmou ter sido surpreendido pela inclusão e atacou diretamente Alexandre de Moraes:
“Isso é o quê? A Polícia Federal virou a Gestapo… KGB? Estamos caminhando para a venezuelização…”
Eduardo Bolsonaro também reagiu, dizendo que “o Brasil já virou uma Venezuela” e questionando qual seria o crime atribuído ao pastor.
Possíveis implicações jurídicas
Especialistas ouvidos por portais como Carta Capital e BNews avaliam que a inclusão de Malafaia indica que a PF e o STF pretendem mapear não apenas ações diretas, mas também atos de comunicação e influência pública que possam ser interpretados como incentivo à mobilização contra as investigações. Caso seja denunciado e condenado, o pastor pode responder por crimes previstos no Código Penal e na Lei de Segurança Nacional.
Por enquanto, o processo segue sob sigilo e não há data para a oitiva de Malafaia. O STF também não divulgou se novas diligências serão direcionadas a outros líderes religiosos ou figuras políticas ligadas ao bolsonarismo.
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