Brasil

"Saúde e soberania não se negociam", afirma Padilha após sanção dos EUA

Ministro da Saúde critica decisão do governo Trump de revogar vistos de ex-integrantes do Mais Médicos; Eduardo Bolsonaro elogia medida como sinal de combate a regimes autoritários

Alexandre Padilha
Walterson Rosa/MS - 

Belo Horizonte - O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reagiu na noite desta quarta-feira (13) à decisão do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, de revogar os vistos de dois ex-integrantes do programa Mais Médicos. Pelas redes sociais, Padilha classificou a medida como “ataque injustificável” e reafirmou que o programa continuará ativo.

“O programa salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira. Não nos curvaremos a quem persegue as vacinas, os pesquisadores, a ciência e, agora, duas das pessoas fundamentais para o Mais Médicos na minha primeira gestão como Ministro da Saúde, Mozart Sales e Alberto Kleiman”, escreveu o ministro.

A decisão foi anunciada mais cedo pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, que informou a retirada dos vistos de Mozart Julio Tabosa Sales, atual secretário de Atenção Especializada à Saúde, e Alberto Kleiman, ex-assessor de Relações Internacionais do ministério e hoje coordenador-geral para a COP30. A justificativa é que ambos, enquanto servidores do Ministério da Saúde, participaram da implementação do programa Mais Médicos em  2013 e seriam “cúmplices” do que Washington chama de “trabalho forçado do governo cubano”.

Em sua publicação, Padilha destacou que, nos últimos dois anos, o número de profissionais no Mais Médicos dobrou e ressaltou o impacto positivo do programa no acesso à saúde em regiões remotas.

“Temos muito orgulho de todo esse legado que leva atendimento médico para milhões de brasileiros que antes não tinham acesso à saúde. Seguiremos firmes em nossas posições: saúde e soberania não se negociam. Sempre estaremos do lado do povo brasileiro.”

Ao contrário de Padilha, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) saudou a medida. Ele afirmou que a revogação de vistos de ex-funcionários do governo Dilma Rousseff que atuaram no Mais Médicos demonstra o “compromisso” do presidente Donald Trump em “conter e punir regimes autoritários”.

“A medida é também um recado inequívoco: nem ministros, nem burocratas dos escalões inferiores, nem seus familiares estão imunes. Mais cedo ou mais tarde, todos os que contribuírem para sustentar esses regimes responderão pelo que fizeram — e não haverá lugar para se esconder. Seguiremos com nossas agendas em Washington DC ao longo da quinta-feira”, disse o parlamentar.

No X, Eduardo Bolsonaro reforçou a visão de que a decisão de Rubio contra integrantes do programa seria um recado contra governos autoritários, como os de Cuba, e, segundo ele, aqueles que ele acredita estarem transformando o Brasil:

“O anúncio feito hoje pelo secretário de Estado Marco Rubio, de origem cubana, de sanções contra financiadores da ditadura comunista cubana travestidos de programas governamentais reforça o compromisso da administração Trump em conter e punir regimes autoritários, como os de Cuba e os que Moraes e Lula tentam transformar o Brasil, para que não espalhem seu alcance pelo continente impunemente.”

Criado em 2013, o Mais Médicos atende regiões remotas e vulneráveis, muitas vezes sem cobertura médica regular. Inicialmente, contou com médicos cubanos via cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), até 2018. Em 2023, o programa foi retomado pelo governo federal, rebatizado como Mais Médicos para o Brasil, com prioridade para profissionais brasileiros e expansão de vagas para outras áreas de saúde, como odontologia, enfermagem e assistência social.

A recente sanção dos Estados Unidos contra servidores do Ministério da Saúde que participaram da implantação do programa Mais Médicos, em 2013, gerou questionamentos sobre motivações políticas e ideológicas. O programa foi lançado durante o governo Dilma Rousseff, mas a sanção americana ocorreu 12 anos depois.

O curioso é que Donald Trump assumiu a presidência em 2017 e não tomou nenhuma medida contra o programa durante seu mandato, o que levanta dúvidas sobre o real objetivo da ação atual. Analistas apontam a influência do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que reside atualmente nos Estados Unidos e mantém publicamente uma postura crítica ao governo brasileiro, como um fator determinante nas medidas adotadas contra o Brasil.

Em publicações recentes, Eduardo Bolsonaro sugere que continuará buscando novas sanções, afirmando que, nesta quinta-feira (14), terá mais encontros com representantes do governo americano para avançar em sua agenda. A situação provoca debates sobre o papel de um parlamentar brasileiro que mantém gabinete ativo em Brasília enquanto atua politicamente em outro país.

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