Rio de Janeiro - Acredite se quiser, leitor, eu tinha apenas quinze anos e já odiava Luiz Carlos Maciel.
Nessa idade, eu já publicava meus primeiros desenhos em jornais de bairro, de sindicatos e até já tinha emplacado uma caricatura do jornalista Nelson Rodrigues, num jornalzinho do SESC.
Era louco pra ver meus desenhos (sic) no " O Pasquim".
Comecei a escrever para a seção de cartas do jornaleco e mandar junto os meus rabiscos.
No auge do ‘O Pasquim’ - depois, "Pasquim", sem o artigo -, Luiz Carlos Maciel, mantinha uma coluna que fez maior sucesso, chamada ‘Underground’. A coluna fez dele, durante a ditadura, o guru da contracultura.
Maciel, segundo Jaguar - editor do tabloíde - era quem mais recebia cartas dos leitores.
Como eu gostava de Rock, mandei algumas cartas com caricaturas de roqueiros (copiando descaradamente os traços do Fortuna e do Lan) para a coluna mantida pelo Luis Carlos Maciel, no hebdomadário.
Ele nunca respondeu nem publicou minhas caricaturas.
Odiava ele! Nem o conhecia, mas já o odiava.
Tempos depois, conversando com Jaguar, no bar Degrau, no Leblon, fiquei sabendo que Ivan Lessa jogava fora todas as cartas destinadas ao jornal e fazia da seção de cartas do jornal, sob o pseudônimo de Edélzio Tavares, uma delirante obra de ficção.
Nunca tive chance de me desculpar com o Maciel. Nem de esculhambar com o Ivan Lessa, por me fazer perder tempo.
Claro, eu não faria isso com o Ivan Lessa! Eram dois talentos. E dois ídolos.
"Homem de sensibilidade fina e lucidez serena", como definiu Caetano Veloso, Luiz Carlos Maciel era filósofo, jornalista, poeta, escritor, roteirista e foi também ator amador; e aos 20 anos já tinha dirigido "Esperando Godot", de Beckett.
Maciel nasceu em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, em 15 de março de 1938. Além de colaborador do jornal 'O Pasquim'', foi diretor da edição nacional da revista 'Rolling Stones' e passou também pelo 'Jornal do Brasil' , 'Última Hora' e pelas revistas 'Veja' e 'Fatos & Fotos' e foi roteirista e redator na Rede Globo.
O gaúcho ainda dirigiu diversos espetáculos, como o musical 'Baby Gal', com a cantora Gal Costa, e a peça 'Flávia, cabeça, tronco e membros', de Millôr Fernandes. Além dos palcos e dos jornais e revistas, ele deu aula em diversos cursos, a maioria voltados para o teatro.
Em 1970, foi preso pelo regime militar e passou dois meses na Vila Militar.
Era amigo de Glauber Rocha, que conhecera na Bahia. Glauber apresentou Maciel a João Ubaldo Ribeiro, Caetano Veloso e Tarso de Castro. Antes de vir pro Rio, Maciel dirigiu 'Morte e Vida Severina', em Salvador.
Tarso imediatamente se apaixonou pela cultura e pelo carisma daquele jovem bonito talentoso.
Quando veio para o Rio de Janeiro, convidado para editar o "Panfleto" - jornal do Leonel Brizola, seu guru político -, Tarso convidou o amigo.
Com o fim do "Panfleto", Tarso levou Maciel para juntos criarem o ipanêmico " O Pasquim”, e, dalí, para todos os seus projetos jornalísticos.
Em 2003, Maciel publicou o livro “O poder do clímax - Fundamentos do roteiro de cinema e TV”, relançado em 2017.
Luiz Carlos Maciel morreu no dia 9 de dezembro de 2017, aos 79 anos, no Rio de Janeiro. O jornalista deixou a esposa, a atriz Maria Claudia, e dois filhos, Roberto Maciel e Lucia Maciel.
Comentários