Rio de Janeiro - Os jovens de hoje, evidentemente, nunca ouviram falar em Ivan Lessa. Nem d´O Pasquim, provavelmente.
Ivan Lessa (1935-2012) foi um jornalista, pensador e escritor brasileiro, fã de Billy Eckstine.
Lessa nasceu em São Paulo, no dia 9 de maio de 1935. Filho do escritor Origenes Lessa e da jornalista e cronista de ‘O Globo”, Elsie Lessa. Colaborou com os jornais 'Diário Carioca', 'Última Hora', ‘Folha de São Paulo’, ‘O Estado de São Paulo’, 'Jornal do Brasil', 'Gazeta Mercantil" e com as revistas 'Senhor', ‘Veja’ e ‘Playboy’; mas é lembrado, sobretudo, pelo trabalho no satírico ‘O Pasquim’, símbolo da resistência democrática à ditadura.
Foi um dos principais editores e colaboradores do jornal de Ipanema, onde assinava, junto com Millôr Fernandes, a seção ‘Gip-Gip-Nheco-Nheco’ - ilustrada alternadamente pelos cartunista Caulos e Redi.
Escrevia ainda os ‘Diários de Londres’ e as debochadas e surrealistas ‘Fotonovelas’, volta e meia estreladas por gente famosa (até Fernanda Montenegro protagonizou uma); além da seção de cartas dos leitores, que passou a responder, oculto pelo heterônimo de Edélsio Tavares, um cafajeste, politicamente incorreto, que tratava os leitores aos pontapés. Os novatos e os masoquistas adoravam.
Não menos agressiva e desbocada era dona Edelmar Barbosa (outra invenção de Ivan), que de gravador Philips em punho fazia entrevistas fictícias com personalidades internacionais.
Para os da geração pós-quim: Ivan Lessa foi um talento ímpar na geração que criou o hebdomadário. Era um fenômeno. Seu talento se espalhava por quase todas as páginas do jornal. Ivan só não desenhava, mas escrevia estupidamente bem. Era o oposto do intelectual de 'feicebuqui' de hoje: sem arrogância ou soberba. Era um espírito independente. Não seguia a boiada. Não implorava por aplausos, likes ou curtidas.
Eu conhecia Ivan Lessa mais de longe que de perto. Na verdade, não o conheci pessoalmente. Minha relação com o Pasquim começou quando em 1979 eu fui n’O Pasquim tentar publicar uns desenhos, nessa época, ele já estava morando em Londres, na Inglaterra, de onde escrevia para o jornal e para a BBC.
Eu era um garoto e ‘O Pasquim’ era o que havia de mais importante na cena editorial naquele tempo e o sonho de todo desenhista da época. Nunca consegui publicar (exceto um ou dois desenhos na seção de cartas, espaço não tão nobre do jornal). Minha geração batia ponto na banca de jornal para comprar os exemplares do Pasquim. Eu lia o jornal de cabo a rabo. O Pasquim - pelo menos para os não "alienados" - era leitura obrigatória.
Tempos depois, ganhei do Jaguar o gostoso livro ‘Lugares In-Comuns". Um livrinho escrito por ele em co-autoria com o Ivan Lessa e prefácio do escritor Ignácio de Loyola Brandão, editado pela Codecri e patrocinado pela Goodyear.
Jaguar, no traço e Ivan, no texto.
“Lugares in-comuns” é um apanhado de frases criadas pelo Ivan Lessa ou tiradas dos ditos populares e para-choques de caminhões. Frases feitas e tiradas filosóficas populares, cheias de lugares comuns.
Algumas frases do Lessa: "De 15 em 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos 15 anos anteriores."
"O brasileiro é um povo com os pés no chão. E as mãos também."
"O Brasil tem 8.511.965 quilômetros quadrados por sete palmos de profundidade."
"Amar é... ser a primeira a reconhecer o corpo dele no Instituto Médico Legal."
"O sol nasce para todos. Já o crepúsculo é meio classe média."
Lessa publicou três livros: Garotos da Fuzarca (contos, 1986), Ivan Vê o Mundo (crônicas, 1999) e O Luar e a Rainha (crônicas, 2005). Ivan escreveu, em 2003, a apresentação para o livro ‘A Sangue Frio’ (1965), de Truman Capote.
Desde que foi para a Inglaterra, voltou apenas uma vez ao 'Bananão" - epiteto que ele deu ao Brasil. Faleceu em Londres, no dia 8 de junho de 2012.
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