Política

Candidato a Prefeito Ronaldo Magalhães usa altar da Igreja Mundial do Poder de Deus como palanque eleitoral

Campanha política em templos religiosos é prática vedada pela legislação

RONALDO MAGALHÃES
Ronaldo Magalhães no altar da Igreja Mundial do Poder de Deus. (Foto: Franklin Rodrigues)

O prefeito de Itabira e candidato a reeleição, Ronaldo Lage Magalhães (PTB), esteve na manhã desse domingo (8), acompanhado do seu candidato a vice, Gustavo Milânio, e do secretário de governo, Ilton Magalhães, na Igreja Mundial do Poder de Deus durante a reunião dominical para pedir votos. Com a igreja lotada, Ronaldo Magalhães foi convidado pelo líder religioso para subir no altar. 

A presença de Ronaldo Magalhães no templo religioso, de acordo com informações de um membro que pediu para não ser identificado, motivou a quebra do protocolo de combate ao Covid-19. Segundo ele, devido ao Covid-19, a igreja havia desmembrado as reuniões e retirado do salão maior parte das cadeiras, que foram trazidas de volta neste domingo deixando o salão lotado para receber o candidato. Ele lembrou ainda que a última vez que Ronaldo Magalhães havia aparecido na igreja foi nas eleições de 2016, retornando neste domingo novamente para pedir votos. Todos que chegavam na igreja eram convidados a colocar o botton do candidato no peito.

Veículo do candidato Ronaldo Magalhães indicava sua presença no templo. (Foto: Franklin Rodrigues)

O senhor Franklin Acácio Rodrigues, que também é membro da igreja e participava da reunião, decidiu fotografar o candidato no altar no momento que era feito o pedido de voto. Porém, logo que foi notado, Franklin foi cercado pelos obreiros e alguns membros da igreja que o impediram de continuar fotografando. Eles passaram a exigir dele que deletasse as fotos que já havia feito sob ameaça de tomar o seu telefone. Uma membra da igreja ao ver o tumulto passou mal. O secretário de governo, Ilton Magalhães, percebendo a gravidade da situação, interviu e tentou amigavelmente convencer Franklin a deletar as fotos que já haviam sido tiradas, sob o argumento de que eram amigos e que ele iria prejudicar o candidato. Neste instante, Franklin aproveitou o descuido dos que o cercavam e correu para fora, sendo seguido por uma mulher mais exaltada que tentava o agarrar. Segundo ele, que conhece boa parte dos membros da igreja, esta mulher que o seguiu até o lado de fora ocupa cargo de confiança no governo, na área da saúde. Além dela, muitos outros membros também ocupam cargos de confiança no governo Ronaldo, a quem a igreja apoiou na eleição de 2016.

A tentativa de obrigar Franklin a deletar as fotos que mostram o candidato Ronaldo Magalhães no altar, durante o culto, é por saberem que esta prática é vedada pela legislação eleitoral.

Ronaldo Magalhães no altar da Igreja Mundial do Poder de Deus. (Foto: Franklin Rodrigues)

Essa não é a primeira vez que a Igreja Mundial do Poder de Deus adota essa prática que contraria a legislação eleitoral. Em 2014 a igreja apoiou os candidatos a deputado federal Franklin Roberto Souza (PP-MG) e deputado estadual Márcio José Oliveira (PR-MG), esse último sobrinho do líder religioso Valdemiro Santiago. Os dois foram eleitos e depois tiveram seus mandatos caçados no conhecido episódio da Praça da Estação, quando a igreja promoveu ali, às vésperas da eleição, um grande evento com caravanas vindas de todo o estado, fazendo o pedido explícito de votos para os candidatos. 

No julgamento do processo que condenou os deputados, a relatora ministra Rosa Weber, ressaltou em seu voto que os fatos mencionados são de "enorme gravidade" e revelam pedido explícito de votos e abuso de poder econômico em favor dos candidatos.

Já o ministro Admar Gonzaga, que acompanhou o voto da relatora, lembrou que as igrejas gozam de privilégios fiscais oferecidos pelo Estado e que a conduta praticada no encontro da Igreja Mundial do Poder de Deus "desbordou" em abuso de poder econômico.

Agora, Ronaldo Magalhães se vê envolvido na mesma prática, ao usar o templo religioso da mesma igreja, durante o culto dominical, para fazer ali sua campanha. Caso a prática seja denunciada, seja por outros candidatos que disputam o cargo ou pelo próprio Ministério Público, Ronaldo Magalhães corre o risco de sofrer a mesma punição que tiveram os deputados, com a cassação de seu mandato, caso seja eleito.

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