“As meninas de Campo Largo saem com os rapazes de Ponta Grossa”.
A piada de mau gosto, considerada machista e preconceituosa, foi contada no microfone pelo locutor Cuiabano Lima, citando duas cidades paranaenses, na solenidade de lançamento do Partido Aliança pelo Brasil, 21/11, no Hotel Royal Tulip, em Brasília, em proposta do presidente Jair Messias Bolsonaro. A legenda partidária de extrema direita que ele pretende criar, com o nº 38, em alusão ao revólver calibre 38, chamado de três oitão, terá que reunir 500.000 assinaturas em pelo menos nove das 27 unidades federativas (incluso no total o Distrito Federal) e ter firmas reconhecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral. A Corte sinalizou que assinaturas digitais não são aceitas e Jair Messias já trabalha com a possibilidade de não ter o partido criado a tempo de disputar as eleições municipais de 2020. Ele teria menos de cinco meses para reunir tais firmas das assinaturas reconhecidas por cartórios.
Além da infeliz anedota acima, uma placa com mais de quatro mil cartuchos de armas feito pelo artista Ricardo Camacho, formando o nome do partido Aliança pelo Brasil, serviu de atração para os seguidores de Jair Messias, que exigem ser chamados de aliados. Alguns deles vestiam camisetas em subordinação ao torturador da ditadura militar (1984-1985) Carlos Alberto Brilhante Ustra. Cerca de 200 ativistas acompanharam o evento no anfiteatro do hotel, tendo apenas 17 jornalistas fazendo a cobertura da cerimônia, pois outros 40 impedidos ficaram do lado de fora, assistindo tudo por um telão. Eles foram chamados de “repórteres de esgoto”, com xingamentos à Rede Globo de Televisão, apelidada de “globolixo”.
O delegado aposentado Antonio Carlos Ferreira, de 62 anos, que vestia camiseta dedicada ao torturador Ustra, em entrevista ao jornal El País, disse que torce “para esse partido tenha o número 38; aí podemos usar o ‘três oitão’ para exterminar a esquerda do país”. E Jair Messias que pela manhã tinha anunciado o nº 80 acabou optando pelo “três oitão” como número da legenda, conforme live no Facebook que divulgou à noite.
“O partido se compromete a lutar incansavelmente até que todos os brasileiros possam ter plenamente garantido o seu direito inalienável de possuir e portar armas para a sua defesa e dos seus”, declarou a advogada Karina Kufa, que dá assistência a Jair Messias. E adiantou que o ApB “vai se esforçar para divulgar verdades sobre crimes do movimento revolucionário, como comunismo, nazifascismo e o globalismo”.
Além de criticar o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, em discurso, o presidente Jair Messias Bolsonaro citou nominalmente o deputado federal Alexandre Frota, que foi eleito pelo PSL e depois se transferiu para o PSDB. Sobre o PSL, Jair Messias criticou a sua antiga legenda de tentar negociar tempo de televisão e se vender para futuras coligações. Afirmou ele que “em parte o problema que tivemos com o partido que deixei agora foi isso”. E prometeu que fará coligações com políticos de direita nas eleições de 2020, observando que se seu novo partido for formado, não se importa de receber prefeitos de outras siglas partidárias com vistas ao pleito do ano que vem.
O evento do Aliança pelo Brasil serviu de palco de estreia para o quarto filho de Jair Messias, o estudante Jair Renan, de 21 anos, anunciado como um dos vogais da sigla. Jair Messias anunciou que será o presidente do partido, tendo na vice-presidência o senador e primogênito dele, Flávio Bolsonaro. O segundo vice-presidente será o milionário advogado de Brasília, Luís Felipe Belmonte, que é suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF).
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