Ediel Ribeiro é jornalista, escritor e cartunista. Autor de “Patty & Fatty” uma tira de quadrinhos nacional, de humor ácido, publicada desde 2003, no jornal “O Municipal”, do Rio de Janeiro.
A tira foi publicada também na revista “Megazine”, do jornal “O Globo”, no jornal “Expresso”, do Rio de Janeiro e em vários blogs e sites na Internet.
O site “Tribuna HQ” conversou com o cartunista, em seu estúdio no Rio de Janeiro.
Tribuna HQ – Você já foi dono de bar, locutor de rádio, produtor de discos, jornalista, design, publicitário, cartunista, escritor, chargista e, agora, quadrinista. Você virou cartunista porque fracassou nas outras profissões?
Ediel – Acho que sim. O cartunista americano Scott Adams dizia que a maioria dos sucessos brota de um obstáculo ou fracasso. Eu me tornei um cartunista porque falhei em minha meta de me tornar um jornalista de sucesso. Eu costumo dizer que cartunista é um jornalista que não deu certo.
Tribuna – Quando você começou a desenhar?
Ediel – Como toda criança, comecei a desenhar cedo. O desenho é a primeira manifestação artística de toda criança. A diferença é que algumas, quando adultas, fazem sucesso na vida e abandonam o desenho, outras, como eu, tornam-se cartunistas (risos)
Tribuna – Você fez algum curso de desenho?
Ediel – Não. Sou autodidata. Comecei um curso de desenho artístico no Liceu de Artes e Ofício, no Rio de Janeiro, mas fui expulso na primeira aula.
Tribuna – Por quê?
Ediel – Eu era meio radical…
Tribuna – Você sempre quis ser cartunista?
Ediel – Eu sempre quis trabalhar com humor. Nasci no dia 30 de janeiro – Dia do Quadrinho Nacional. Acho que eu estava predestinado a ser cartunista. Sabe aquela clássica pergunta: o que você quer ser quando crescer? Na escola, quando a professora me fez essa pergunta eu mandei: palhaço. Quando criança, minha mãe me levou ao circo e o palhaço Carequinha (famoso palhaço da década de 50/60) me pegou no colo. Aquilo me marcou muito. Foi o meu primeiro contato com um artista. É uma das poucas lembranças que tenho da minha infância.
Tribuna – Lia muito gibi?
Ediel – Muito. Principalmente os da Disney e do Maurício de Souza. Aprendi a ler com os gibis. Depois vieram os quadrinhos adultos: Hägar; B.C.; Frank & Ernest; o Mago de Id; Mafalda; Zé do Boné; Snoopy; os personagens do Henfil; As Cobras, do Veríssimo; Crumb; Quino; Angeli; Laerte…
Tribuna – Como foi sua passagem pelo “Pasquim”.
Ediel – Foi discretíssima. Eu era muito jovem, e muito tímido. Aqueles caras eram meus ídolos. Henfi; Jaguar; Ivan Lessa; Tarso de Castro; Nani. Eu tinha vergonha de mostrar meus desenhos pra eles. Um dia, tomei coragem e mandei alguns. O desenho acabou indo parar na seção de cartas, espaço não tão nobre. Mas foi o máximo pra mim. Mostrei o cartum pra todo mundo. Agora, eu era artista. Depois publique uns dois ou três.
Tribuna – Profissionalmente, você começou onde?
Ediel – Comecei no Jornal “Luta Democrática”, do folclórico deputado Tenório Cavalcante. Entrei lá como foca. Escrevia crônicas de humor, fazia charges, cartuns. Depois fui pra “Tribuna do Povo”. Na Tribuna, eu publiquei minha primeira história em quadrinhos: Circo Brasil. Lá, virei editor. Depois que saí de lá, trabalhei como locutor e produtor de rádio. Editei o “Jornal do Rádio”, a revista “Rádio Magazine”.
Com o fim do “Pasquim”, criei e editei o “Cartoon”, um jornalzinho de humor que publicava, o que a gente chamava de “os órfãos do Pasquim”. Fora alguns famosos como Jaguar; Henfil; Nani; Chico Caruso; publicamos muita gente boa que estava começando como Ferreth; Netto; Ykenga; Amorim; Fred – na época um jovem e promissor cartunista da Paraíba –; Aragão e Celim, de Minas Gerais; o chileno Gonzalo Cárcamo – que, na época, estava chegando ao Brasil – , entre outros.
Tribuna – Fazer jornal de humor dá dinheiro?
Ediel – Deu pra turma do “Pasquim”, hoje não dá mais. Na verdade, o “Cartoon”, foi, guardada as proporções, como o “Pif-Paf”, do Millôr. Saíram só cinco números. Era um jornal meio amador, não tinha retorno financeiro, periodicidade, publicidade… fazíamos pelo prazer. Ninguém ganhava nada.
Tribuna – De onde vem a inspiração para criar as tiras?
Ediel – O que escrevo vem de coisas que percebo, que leio, que vejo, que ouço. Do dia a dia. Estou no segundo casamento, tenho quatro filhos, um cachorro. E bebo muito. Minha vida é parecida com a dos Palmer´s (risos).
Tribuna – Quanto ao texto, qual a importância dele nas suas tirinhas?
Ediel – Acho que o texto nos meus quadrinhos tem um peso substancial. Não sou um grande desenhista. Não tenho um traço limpo. Simplesmente não consigo. Não é a minha. Meu traço é neurótico, trêmulo e incerto. Infantil, até. Mas funciona se escondido por trás de um texto razoável. Eu sou, guardadas as devidas proporções, um pouco como o Luiz Fernando Veríssimo que fez as cobras porque não sabia desenhar mãos. Eu não sei desenhar pés. Aliás, não é que eu não saiba, meu problema é que sou preguiçoso. Não gosto de fazer nada que seja difícil ou tecnicamente exigente. É só olhar para as minhas tiras e ver que é um humor de texto.
Tribuna – Quais cartunistas você lê?
Ediel – Leio os da “Folha de São Paulo”. Angeli; Laerte; Fernando Gonsales; Caco Galhardo; Adão Iturrusgarai. Do Globo, leio o André Dhamer e a Clara Gomes. Do “O Dia” leio o Nani. Entro no blog do Allan Sieber, do Arnaldo Branco, da Chiquinha, da Ciça, da Rosa Durval. Dos estrangeiros, gosto do Charles Schulz, do Bill Watterson e dos argentinos, Liniers, Quino, Maitena. São os que vejo diariamente.
Segue na coluna de quarta-feira
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