Rio - Mulher é tão fácil que até pobre tem, dizem.
Mas, nem sempre foi assim. E na época em que mulher era difícil, as bonecas infláveis faziam o maior sucesso.
Henfil já estava morando há alguns anos nos Estados Unidos - cuidando da hemofilia e tentando vender pros gringos os Fradins, a Graúna e o Bode Orelana - quando recebeu um pedido inusitado do amigo Jaguar.
O velho editor do “O Pasquim”, encomendou uma boneca inflável, ao Henfil.
Henfil, desde cedo criado numa educação religiosa, cheia de tabus, achou aquilo um pecado.
Mas comprou a boneca.
E numa das cartas que escrevia, diariamente, para o Brasil, avisou ao amigo José Eduardo Barbosa, um dos diretores do “O Pasquim”:
Zé, olhaí, chegou a tal mulher inflável que o Jaguar encomendou. Pedi pelo correio.
Chegou pelo correio. Dez dólares. Horrorosa.
Enchi a coisa e deixei na sala. Dalula, a faxineira, veio nos ver à noite e quando viu, distraída, a coisa, quase morreu de susto.
Não sei como é que eles têm coragem de anunciar essas bonecas como capazes de substituir, na cama, as mulheres de verdade. O mais solitário dos tarados
não vai se excitar com uma merda destas.
No anúncio eles colocam uma mulher de verdade, os safados.
Esvaziei e mando pelo primeiro portador. Diz pro Jaguar que duvido muito que dê pra usá-la nas fotonovelas. Tira o tesão de qualquer um.
A minha Amely (homenagem a personagem da amiga e cartunista Pryscila Vieira), também tem uma história hilária.
O cantor, Wando - ídolo das empregadas domésticas - estava lançando o CD “S.O.S do Amor”, num hotel, na orla de Copacabana.
Fui lá bater um papo com ele, para a revista “Rádio Magazine”.
Depois da entrevista, Wando me presenteou com uma boneca inflável, tamanho natural e um kit de primeiros socorros pornô.
Desse kit constavam calcinha, batom, camisinha, uma lata de catuaba selvagem (que, dizem, é estimulante sexual), além de um frasco com óleo queimado, com um
rótulo que diz: "Mô, o carro quebrou." - desculpa para maridos que chegam mais tarde em casa.
A boneca veio numa caixa enorme. Com a foto de uma loura pelada, fazendo caras e bocas.
Eu comecei a imaginar como iria sair do hotel, com aquela caixa embaixo do braço. Maior mico.
No elevador, uma senhora olhou pra caixa e me encarou como se eu fosse um pervertido.
Pedi um taxi e fiquei parado na saguão do hotel, com aquela boneca enorme nas mãos.
Todo mundo me olhando.
Afinal, não é todo dia que alguém sai de um hotel abraçado com uma boneca inflável.
Nessas horas, o taxi demora uma eternidade.
Quando chegou, o motorista, vendo a caixa, abriu a porta com um sorriso irônico.
Entrei correndo no taxi e fiquei abaixado, enquanto o motorista me encarava pelo retrovisor,
com um sorriso no rosto.
Por pouco, ele não perguntou: vai pra onde, taradão?
*Ediel é jornalista e escritor
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