O impacto da perda do grau de investimento (selo de bom pagador) do Brasil vai ser grande sobre a economia real e ainda não está totalmente absorvido, afirmou hoje (18) o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Apesar de o rebaixamento pela agência de classificação de risco Fitch não ter provocado grandes oscilações na cotação do dólar, o ministro rejeitou a hipótese de que a redução da nota do país esteja precificada – incorporada aos preços dos ativos financeiros.
“A questão do rebaixamento é um sinal de atenção. Não entendo essa história de que está tudo precificado. A gente pode mudar as coisas. O rebaixamento tem impacto forte na vida das empresas, dificulta [a obtenção de] crédito para elas avançarem”, declarou o ministro em café da manhã com jornalistas.
De acordo com o ministro, o rebaixamento não representa um problema apenas para a dívida pública brasileira, que está crescendo. Segundo ele, a principal consequência da perda do grau de investimento se manifesta na economia real, com o aumento dos juros para as empresas que forem captar recursos no exterior.
“O rebaixamento não é problema de dívida pública, nem da nossa dívida externa, que está baixa. O problema é o que significa para as empresas”, acrescentou o ministro. Por causa das reservas internacionais em torno de US$ 368 bilhões, o país é credor externo, tendo mais ativos que dívidas no exterior.
Fazendo uma comparação com o futebol, Levy cobrou o compromisso do governo em relação ao ajuste fiscal para reverter as consequências do rebaixamento no médio prazo.
“Acho importante tomar medidas no âmbito fiscal para reverter as consequências do rebaixamento. Acho que a gente tem condição de trabalhar. Voltar à primeira divisão dá um pouquinho de trabalho, mas sempre é possível.”
Em relação à decisão do Federal Reserve (Fed), Banco Central norte-americano, de elevar os juros básicos dos Estados Unidos pela primeira vez em nove anos, o ministro disse que, diferentemente do rebaixamento, os efeitos do aumento das taxas já está absorvido pela economia mundial. Para ele, a elevação foi boa porque elimina incertezas que há meses pairavam sobre o mercado financeiro internacional.
“Ao contrário do rebaixamento, a elevação dos juros pelo Fed já estava precificada. A elevação [de 0,25 ponto percentual] indica que futuros aumentos serão feitos de maneira gradual. O Brasil estava preparado para isso. Era bom acontecer logo porque a resolução de incertezas traz aspectos positivos para a economia mundial.”
Apesar do rebaixamento, o ministro ressaltou que o país continua atrativo para investidores estrangeiros. Ele citou o leilão de renovação das concessões de usinas hidrelétricas, que rendeu R$ 17 bilhões que entrarão no caixa do governo no próximo ano.
“Em relação ao setor elétrico, hoje temos tranquilidade maior no setor. Há um ano, todo mundo previa que haveria um apagão. Foi um ano difícil, mas não teve apagão. Conseguimos fazer um leilão significativo sem que as empresas participantes tivessem de pedir dinheiro para o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social]. O fato de investidores querendo comprar ativos no Brasil é uma vitória.”
Levy disse ainda que a Petrobras, embora enfrente dificuldades com a queda do preço internacional do petróleo, está se recuperando. “No início do ano, as agências de risco previam que a Petrobras não conseguiria nem publicar as contas. Ela publicou as contas e está com sistema de compliance [cumprimento de normas de transparência] bastante forte. A verdade é que a Petrobras está lidando com o desafio da mudança do preço do petróleo, que é o principal produto, com estratégia de desinvestimento”, concluiu.
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