Por Olavo Machado Júnior
Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - Fiemg
A passagem de 2014 para 2015 coloca os brasileiros diante de um grave dilema: entregar-se ao pessimismo provocado pelos desalentadores indicadores de desempenho da economia, fechando um dos piores quadriênios da história, ou apostar e acreditar que, com trabalho e vontade política, é possível recolocar o país nos trilhos do crescimento e fazer dele um poderoso instrumento de avanço social. No cenário atual, considerando o porte dos desarranjos acumulados e o predomínio de perspectivas negativas, admito que a opção mais otimista pode parecer ingênua. Prefiro acreditar que não, que ainda há uma réstia de luz no fim do longo túnel que o país precisa atravessar. O pessimismo não é solução e só pode gerar o agravamento da crise. A presidente Dilma, com certeza, sabe o tamanho de sua responsabilidade - e também conhece bem o tamanho da expectativa dos eleitores que a reelegeram, daqueles que preferiam a oposição e muito especialmente daqueles que, descrentes, se abstiveram ou votaram branco e nulo. Os primeiros passos da presidente na montagem de sua equipe de governo para a área econômica, a mais sensível e mais vulnerável, sinalizam clara disposição para mudanças profundas. O perfil dos ministros já anunciados é, sem dúvida, o oposto daqueles que lideraram o fracasso dos últimos anos e que agora voltam para casa. Joaquim Levy, novo ministro da Fazenda, tem uma carreira testada e aprovada na iniciativa privada e também no setor público, goza de credibilidade e professa crenças alinhadas com as exigências do momento. Armando Monteiro Neto, senador e ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria - CNI, tem todas as credenciais para realizar uma exemplar gestão à frente do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior - MDIC. Kátia Abreu, também senadora e presidente da Confederação Nacional da Agricultura - CNA, é, certamente, uma boa escolha para o Ministério da Agricultura. A manutenção do economista Alexandre Tombini na presidência do Banco Central representa a renovação da aposta em um profissional do setor e funcionário de carreira da instituição. Um bom começo. No entanto, é preciso que a presidente Dilma assegure aos novos ministros as condições de que precisam para trabalhar e recolocar o país na rota do crescimento sustentável. Não há mais espaço para o corporativismo e o fisiologismo que imperaram nos últimos quatro anos e são responsáveis pelo fracasso produzido. Os desafios são muitos, são grandes e não darão uma segunda chance ao governo. O Boletim Focus, editado pelo Banco Central com base em projeções das mais importantes instituições do mercado financeiro, indica crescimento praticamente zero para o PIB este ano - 0,13% - e de apenas 0,55% ano que vem. Como também ocorreu ao longo dos últimos anos, a inflação segue elevada e deve fechar o ano em 6,38%, ameaçando estourar o teto da meta definida pelo próprio Banco Central, de 6,5%, o que, mantido o ritmo atual, ocorrerá em 2015 - a projeção do Boletim Focus aponta uma inflação de 6,54%. Da mesma forma, a taxa básica de juros se manterá elevada em 2015, devendo fechar o ano em 12,5%, o que é péssimo para os investimentos no setor produtivo. No período 2011/2014, em termos médios, o Brasil cresceu 1,6% ao ano, contra 3,4% do mundo. A indústria foi o setor mais afetado, perdendo mercados no Brasil e no mundo. No período, o PIB industrial cresceu a uma média de 0,3% ao ano no país e 0,1% ao ano em Minas Gerais. Essa é a realidade que precisamos mudar, em regime de "urgência, urgentissíma" - e o momento é agora. Não podemos continuar numa guerra não declarada entre o setor produtivo e os órgãos fiscalizadores e normatizadores. Igualmente, o país não pode continuar subordinado a uma elite de funcionários públicos, de dirigentes sindicais e de políticos que desonram os seus mandatos, nada produzem e ainda criam obstáculos para quem tenta trabalhar. Precisamos de um pacto, formal ou não, que una o país e restitua aos brasileiros o orgulho por seu país e os convença de que é melhor ficar aqui do que ir embora para Miami. Este é também o momento ideal para discussões e negociações objetivas e consequentes em torno das grandes reformas estruturais indispensáveis ao país e que, infelizmente, vem sendo postergadas ao longo de anos e décadas. É o momento que quebrar paradigmas e ideologias, de sermos simples, pragmáticos e focados em projetos e ações que acelerem o desenvolvimento econômico e social do país. Hoje, perigosamente, o Brasil se distancia dos processos que ocorrem no mundo desenvolvido e que se baseiam na integração de blocos econômicos e cadeias globais de valor e no conhecimento. É hora de acreditar que é possível mudar e isso, exatamente, é o que nos move em direção à construção de um país forte em sua economia e justo na distribuição dos frutos do crescimento.
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