Determinação de itabiranos que retomam os estudos na terceira idade inspira gerações
Neuza e Antônio retomaram os estudos por meio da EJA e são exemplo de perseverança e afeto na Escola Estadual Doutor Simão Tamm Bias Fortes, em BH

Itabira (MG) - Aos 72 e 82 anos, Neuza Duarte Silva e Antônio Marcelino da Silva decidiram que nunca é tarde para recomeçar. De mãos dadas, o casal chega às aulas noturnas na Escola Estadual Doutor Simão Tamm Bias Fortes, em Belo Horizonte, carregando não apenas mochilas, mas uma história de amor, coragem e determinação que se estende por quase cinco décadas.
Moradores da capital mineira, os dois retornaram à sala de aula após mais de 40 anos longe dos estudos. A oportunidade surgiu ao avistarem, durante uma caminhada, uma faixa anunciando matrículas abertas para a Educação de Jovens e Adultos (EJA). O chamado tocou Neuza imediatamente — e, sem hesitar, Antônio respondeu com afeto: “Eu vou com você, não a deixarei sozinha.”
O gesto simples resume uma vida de parceria, que começou ainda na década de 1970, quando viviam em Itabira (MG). Após o ensino fundamental, vieram os filhos, o trabalho e a mudança para Viçosa, interrompendo o percurso escolar. Mas, já em Belo Horizonte, a vontade de aprender falou mais alto.
"Depois de quase 70 anos, me perguntei o que fiz por mim. Nada. Foi então que decidi voltar a estudar", relata Neuza.
Superando desafios, colhendo conquistas
Desde que ingressaram na escola, em 2022, o casal superou dificuldades e colheu vitórias. Neuza começou no 6º ano e hoje está no 2º ano do ensino médio. Antônio já concluiu essa etapa e, atualmente, cursa o 2º módulo do técnico em Administração, também oferecido na unidade escolar.
A dupla não esconde o carinho pelos professores, colegas e até pela merenda. “Não há nada melhor do que estudar. A escola é acolhedora, os professores são maravilhosos e a merenda é gostosa”, diz Neuza, que elege com o marido a feijoada e o tropeiro como os pratos favoritos.
O exemplo do casal inspira a comunidade escolar. Para a diretora Daniele Moreira, a presença deles é motivo de orgulho. “A energia deles passa não apenas a mensagem da educação, mas também do amor e da parceria. Não tem um professor que não fale bem deles”, afirma.

Educação transformadora
A história de Neuza e Antônio mostra a importância da EJA, modalidade oferecida pelo Governo de Minas por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG). Com turmas voltadas a quem não concluiu a educação básica na idade regular, a EJA oferece flexibilidade de horários e currículo adaptado à realidade dos estudantes adultos.
Segundo o secretário de Educação, Igor de Alvarenga, a iniciativa visa garantir o direito à escolarização independentemente da idade. “É para o trabalhador, para a dona de casa, para o jovem que precisou deixar a escola e quer retornar aos estudos.”
Atualmente, a EJA está presente em 1.207 escolas estaduais, distribuídas por 508 municípios mineiros, com matrículas abertas ao longo do ano. Além disso, os Centros Estaduais de Educação Continuada (Cesec) oferecem modalidades alternativas com atendimento individualizado e certificações por área do conhecimento.
“A EJA tem um potencial transformador para resgatar sonhos e concretizar projetos”, destaca Silene Gelmini, da equipe técnica da SEE/MG.

Como se matricular
Os interessados em voltar a estudar devem procurar a escola estadual mais próxima ou acessar o site da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (www.educacao.mg.gov.br), onde é possível encontrar informações sobre turmas, etapas de ensino e endereços.
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