Coluna

CARLOS DAFÉ, O PRÍNCIPE DO SOUL

Rio de Janeiro - Anos 90. Eu era produtor da ‘96 FM’ quando Carlos Dafé foi contratado para fazer um programa semanal de Black Music, sucesso nas rádios da época.

O programa no qual ele recebia diversos convidados como Bebeto, Marko Andrade, Joel Teixeira, Sandra de Sá, Lúcio Sherman, Euclides Amaral, Serginho Meriti, Tinho Martins, Luiz Carlos Batera, Hildon, Dehma, entre outros, chamava-se “Clube do Swing”. 

Naquele dia, desci até a portaria do prédio para receber e dar as boas vindas ao Dafé. Ele chegou acompanhado do sambista Joel Teixeira, que também fazia um programa de samba na emissora.

O rádio ficava no 12° andar e Dafé tinha medo de elevador. Subimos doze andares de escadas. O programa não durou muito tempo. Acho que Dafé não aguentou o sacrifício. 

Uma vez, na noite, nos encontramos num boteco e ele me disse: meu camarada, aquela escada acaba com qualquer um.  

José Carlos de Sousa, mais conhecido como Carlos Dafé, é um Cantor, compositor  e instrumentista de soul. Seu maior sucesso foi o samba-soul "Pra que Vou Recordar o que Chorei", faixa do álbum Pra que Vou Recordar, de 1977, lançado pela WEA. 

Carlos Dafé
Arquivo Pessoal - 

Compositor. Cantor. Multi-instrumentista (violão, guitarra, baixo, piano, acordeom e vibrafone). Dafé recebeu de Nelson Motta o apelido de “O Príncipe do Soul” por ser, ao lado de Tim Maia, Wilson Simonal, Hyldon, Cassiano, Don Salvador & Grupo Abolição, Banda Black Rio, Jorge Benjor e Tony Tornado, um dos formadores e sedimentadores do gênero soul music no Brasil.

Nascido no subúrbio de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. O pai, José de Sousa, foi funcionário público e músico de chorinho. A mãe, Conceição Gonçalves, foi poeta e incentivadora da musicalidade dos filhos. Seus quatro irmãos são músicos. 

O filho, George Mari Dafé, segue os passos do pai e, além de cantar e compor, toca violão, cavaquinho e percussão. A filha Verônica Dafé, estudou canto e atuou como cantora e backing vocal em vários shows.

Vindo de família de músicos, aos 11 anos já estudava no Conservatório de Música. Aos 14, já tocava acordeon e vibrafone em conjuntos e orquestras.

Militar, em 1970, fez uma turnê com o grupo ‘Fuzi 9’, do Corpo de Fuzileiros Naval, por Salvador (Bahia), Porto Rico, Martinica e Curaçau. Desde jovem, já cantava e escrevia suas próprias canções. Sua composição “Um menino, uma mulher”, em parceria com Toninho Lemos, foi tema do filme homônimo, estrelado por Jece Valadão.

O início da carreira profissional foi, em 1967, com o grupo ‘Don Salvador & Grupo Abolição’; primeiro grupo de negros a tocar soul music em um festival da TV Globo. Na década de 1970, junto com Sandra de Sá, Tim Maia, Don Salvador, Cassiano, Gerson King Combo, Lincoln Olivetti, Sandra Sá, Dom Filó (Equipe Soul Gran Prix), Banda Black Rio, Robson Jorge, Os Diagonais, Toni Tornado e Paulinho Guitarra, entre outros, foi um dos pilares do movimento de soul music (Movimento Black Rio), carioca.

Por essa época, como músico, acompanhava Alcione, Nana Caymmi, Emílio Santiago, Joanna, entre outros artistas da MPB, que também interpretavam suas composições. Neste mesmo ano, Alcione interpretou “Acorda que eu quero ver” e Nana Caymmi interpretou “Passarela” e “Acorda que eu quero ver”.

No ano posterior, em 1977, foi incluído uma composição sua “Pra que vou recordar o que chorei”, na novela Dona Xepa, da TV Globo, saindo neste mesmo ano, o disco com a trilha sonora pela gravadora Som Livre.  Ainda neste mesmo ano a gravadora Warner lançou o LP “Pra que vou recordar o que chorei”.

No início dos anos 80, a música “Deixa pra lá” foi incluída na novela “Livre Pra Voar”, da TV Globo, saindo posteriormente em LP pela Som Livre, integrando a trilha da novela. 

Entre os intérpretes de suas músicas estão Tim Maia, Cauby Peixoto, Elza Soares, Tânia Maria, Agnaldo Timóteo, Seu Jorge (ex-integrante do grupo Farofa Carioca), Tânia Alves,  Márcia Maria e Thelma Tavares, entre outros. Teve trabalhos produzidos por Gabu (do Grupo Raça Negra) e  Charles Gavin (do grupo Os Titãs). 

“Pra que vou recordar o que chorei”, já contabilizou mais de 20 regravações de diversos artistas como Emílio Santiago, Patrícia Marques, Grupo Razão Brasileira, Tim Maia, Martnália , Edmon, Royce do Cavaco, Grupo Força Maior, Ivete Sangalo e Zeca Baleiro. 

Participou do CD “Pery Ribeiro abraça Simonal – Duetos com amigos”, no qual interpretaram a faixa “Gosto tanto de você” de autoria de Pelé (Edson Arantes do Nascimento). Do disco também participaram Caetano Veloso, Elza Soares, Fagner, Alcione, Ângela Maria, Toni Garrido, Altay Veloso, Geraldo Azevedo, Zélia Duncan, Chico César, Bebeto e Leci Brandão, entre outros. 

Ainda em 2017,  foi um dos artistas retratados pela arte de Elihu Duayer, sobre foto de Vinícius Giffoni, e um dos homenageados na exposição com dez painéis sobre “A Era do Soul”, ao lado de outros importantes e emblemáticos artistas  do gênero no Brasil, tais como Tim Maia, Wilson Simonal, Hyldon, Jorge Benjor e Tony Tornado. O projeto multimída, que uniu artes-plásticas e música, teve estreia no CCSP (Centro Cultural São Paulo), na Sala Adoniran Barbosa, no bairro Paraíso.

“Carlos Dafé é um dos ícones da MPB. Por sua importância neste movimento musical, do final da década de 1960 e início da década seguinte, Carlos Dafé  recebeu o título de “O PRÍNCIPE DO SOUL”, bem merecido, por sinal.

Ediel Ribeiro (RJ)

653 Posts

Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

Comentários