Coluna

O MÉDICO E O MONSTRO

BOLSONARO CEMITÉRIO
Foto: divulgação/internet - 

A nomeação de Eduardo Pazuello, general de divisão do Exército Brasileiro, para ministro da Saúde do Brasil, durante a pandemia de Covid-19, apavorou todos os brasileiros.

Não é segredo para ninguém que o presidente Bolsonaro fez de tudo o que podia fazer para nomear um ministro que cumprisse suas ordens e ficasse ao seu lado, sem discordar, mas ninguém sequer imaginou que ele chegasse ao ponto de nomear um general paraquedista, sem especialização ou experiência na área da saúde, para Ministro da Saúde.

Deu no que deu.

Todos perderam, menos o ministro que, com a exoneração, foi agraciado pelo presidente com um cargo de assessor especial - o popular aspone - da Secretaria de Assuntos Estratégico, com salários de 47 mil.

E quando se achava que não tinha mais como piorar, o capitão tirou da cartola o médico Marcelo Queiroga. Antes de assumir, o médico tinha opiniões divergentes a de Bolsonaro, que defende a prescrição de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no combate à covid-19, e é contrário a medidas de isolamento social.

A esperança do povo brasileiro de que, finalmente, depois de quatro tentativas, tivéssemos um médico competente no Ministério da Saúde, não durou muito tempo.

Avisado, ainda na entrevista de emprego, que o médico que comandava o Ministério da Saúde no início da pandemia foi demitido porque decidiu contestar os desatinos do chefe. O doutor que da expediente no Ministério da Saúde hoje, preferiu não correr o mesmo risco.

Hoje, o paraibano Marcelo Queiroga faz figuração no cargo de ministro da Saúde, dando sua bênção aos desmandos do capitão, enquanto espera para lançar uma candidatura nas próximas eleições. Para atingir seus objetivos, ao invés de proteger a saúde da população, o ministro prefere bajular o presidente.

Nos últimos dias, houve muitas críticas ao presidente Jair Bolsonaro que espalhou uma associação falsa entre os imunizantes contra a Covid-19 e a Aids, em sua live na última quinta-feira.

Para diminuir o impacto causado nos jornalistas e na população pela fake news, o presidente chamou o ministro da Saúde em seu gabinete. A conversa, imagino, foi mais ou menos essa:

- Queiroga, quero que você convoque uma coletiva de imprensa para defender uma associação entre as vacinas contra a Covid-19 e a Aids.

- Mas, presidente, eu não posso fazer isso. Não existe nenhum estudo que comprove essa tese. Como vai ficar a minha reputação?

- Como não existe? Deu na revista ‘Exame’. Todo mundo leu, taokey?

- Presidente, o texto é de 2020, quando as vacinas ainda estavam em fase de testes e a própria revista já alterou o texto.

- Essa ‘cuestão’ daí é ‘pobrema’ da revista. Deu tá dado, taokey?

Queiroga coçou a cabeça e apelou para a ciência:

- Eu não posso fazer isso, presidente! E o juramento de Hipócrates?

- O quê que eu tenho a ver com isso daí? Sócrates foi um jogadorzinho comunista que inventou a tal da ‘Democracia Corintiana’ para poder sair da concentração para encher a cara de cachaça com os amigos e comer gente, taokey?

- Não é Sócrates, presidente. É Hipócrates. Um juramento solene efetuado pelos médicos, tradicionalmente por ocasião de sua formatura, no qual juram praticar a medicina honestamente.

- No tocante a isso daí eu não sei. Esse Hipócrates deve ser outro comunista. Aposto que é amigo do Lula, taokey?

Queiroga apelou para o sentimentalismo:

- Pelo senhor eu já lancei dúvidas sobre o uso de máscaras, numa época em que morriam mais de 1.000 pessoas por dia. Defendi a prescrição de cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada no combate à covid-19. Já fui contrário a medidas de isolamento social. Suspendi a vacinação de adolescentes, tudo para seguir as vontades do senhor.

- Por mim não, taokey? Pela Pátria! Brasil acima de tudo e Deus acima de todos!

E encerrou:

-Yuuuuuuuuppiii!

Ediel Ribeiro (RJ)

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Coluna do Ediel

Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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