Coluna

A CORRUPÇÃO NA PANDEMIA

"O presidente Bolsonaro (sem partido e sem juízo) voltou a negar a corrupção em seu governo: “Zero corrupção! Zero! Zero! Talkey?"

ILUSTRAÇÃO DE NANI
Arte: Nani -

Rio - Se tem um órgão do Governo Federal que trabalha - e muito - é o Departamento de Recuos e Desmentidos (DRD).

Ligado à Secretaria de Comunicação - SECOM - o DRD funciona numa salinha nos fundos do Palácio do Planalto, ao lado do gabinete do ódio, sob o comando do secretário especial André de Souza Costa.

Todo mundo sabe que uma das funções mais importantes no governo, hoje em dia, é a de recuar e desmentir as histórias do capitão e de sua prole.

Se o presidente ficar adulterando fatos, desmentindo e fraudando todo tipo de informação, daqui a pouco ninguém mais vai acreditar nas suas declarações.

O presidente Jair Bolsonaro estava bastante nervoso quando o ministro Paulo Guedes entrou em seu gabinete:

- Guedes, onde você estava? Eu aqui cheio de ‘pobremas’ e você passeando!!! Chama o secretário André de Souza, quero fazer uns 'desmentidozinhos'.

- Presidente, eu estava com a Michelle. Participamos de uma campanha de doação de agasalhos, para proteger os pobres do frio dos últimos dias.

- Ótimo! Vamos mostrar para essa imprensa esquerdista que estamos cuidando dos pobres do país. Quanto arrecadaram?

- 148…

- 148 toneladas!? Bom!!

- Não, presidente, 148 itens, entre agasalhos, cobertores e calçados.

- 148 itens. Vocês estão de brincadeira! E ainda gastaram dinheiro para divulgar isso!! Os gastos com a divulgação foram maiores que os valores dos itens.

- Precisamos fazer alguma coisa, presidente. Tirar o foco das denúncias de corrupção que estão pipocando contra o seu governo. Agora, até a sua ex-cunhada Andrea Siqueira Valle, acusa o senhor e seus filhos de se apropriar da maior parte dos salários dos seus assessores, no período de 1991 a 2018.

- Cunhada não é parente, talkey! Ninguém vai acreditar nessa ‘cuestão’ daí. Vai ser a palavra dela contra a minha.

- Não é só ela, presidente. Ela disse que o senhor ficava com parte do salário do irmão dela, do tio dela, do Queiroz, da mulher do Queiroz, da filha do Queiroz, da mulher do Adriano, da mãe do Adriano, da Wal do Açaí, da sua ex-mulher, da prima da sua ex-mulher, do seu ex-sogro e de dezenas de parentes da primeira-dama, entre outros.

- Depois dos irmãos Miranda, só faltava agora essa mulher daí. Assim fica difícil governar. Eu não tenho tempo nem para organizar minhas ‘motociatas’...

- Porque o senhor não critica o deputado Luiz Miranda? Tá todo mundo estranhando o seu silêncio.

- É melhor não mexer com os irmãos Miranda. Vai que eles gravaram a conversa que tiveram comigo… Aí a casa cai!

- Então, o que nós vamos fazer para desviar o foco das denúncias de corrupção no seu governo durante a pandemia?

- Vamos desmentir que meu governo tenha pedido 1 dólar de propina por cada dose da Covaxin.

- Mas, presidente, já existem várias provas do pedido de propina.

- Então, dê mais 150 reais, por três meses aos pobres. Isso vai mudar o foco. Pelo menos o dos pobres.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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