“Tacho formava com Santiago e Bier a ‘santíssima trindade’ do humor gaúcho.” (Fraga)
Rio - Quando estivemos - eu e a Sheila - no ‘Tutti Giorni', o ‘Bar dos Cartunistas’, em Porto Alegre (RS), o cartunista Tacho já não ia mais lá - ele já estava doente - mas falamos sobre sua arte e sua história com o Nani, dono do boteco.
Gilmar Luiz Tatsch, o 'Tacho', nasceu em São Leopoldo, na Região Metropolitana de Porto Alegre, no dia 21 de junho de 1959 e faleceu em 9 de fevereiro de 2021, aos 61 anos.
Jornalista, cartunista e ilustrador, Tacho era filho de Irma Bandeira Tatsch e João Francisco Tatsch, de quem herdou o sobrenome.
A paixão pelo desenho começou cedo, nas mesas do bar do pai, em uma zona boêmia de São Leopoldo, no Vale dos Sinos, na década de 60, quando copiava personagens do brinquedo ‘Forte Apache’.
Os pais queriam que ele entrasse para a faculdade, mas o sonho de tornar-se cartunista falou mais alto. “Entrar para o jornal foi como fugir de casa com o circo. E quando descobri que não sabia desenhar, já estava fazendo charges para sete jornais.” , ironizou.
A trajetória de Tacho começou ainda na adolescência, aos 17 anos, quando, para ajudar nas despesas da casa - quando o pai sofreu um derrame -, entrou para o ‘Jornal Vale dos Sinos’ - hoje jornal ‘VS’, de São Leopoldo - como office-boy.
Em 1986, aos 27 anos, começou como diagramador no ‘Correio do Povo’, onde permaneceu até o começo da década de 90.
Em outubro de 1994, já inspirado na arte dos chargistas gaúchos Santiago e Sampaulo, e nas frases do humorista carioca, Millôr Fernandes, Tacho voltou ao jornal, desta vez como chargista e passou a fazer charges e ilustrações para o jornal uma vez por semana.
Pela simplicidade do traço e por incluir referências gauchescas nos desenhos, se aproximava do Canini e do Rafael Corrêa na concepção das piadas rápidas.
Durante 40 anos no Grupo Sinos, e há 31 no Correio do Povo, chegou a trabalhar em sete jornais do grupo.
Para o jornalista e humorista Fraga, Tacho formava com Santiago e Bier a "santíssima trindade” do humor gaúcho.
Em 2016, Tacho lançou o 'Almanaque do Tacho - Textos & Traços', da editora Sinopsys. Com traços simples, e, às vezes, excessivamente infantil ("Faço o mesmo traço de quando era criança, lá no bar. Sou um adulto que continua desenhando", definia-se.), a obra é uma coletânea de seus trabalhos publicados durante a carreira; o livro reúne mais de 130 charges e diversas frases, muitas delas criticando governos, costumes e até o Internacional, seu time de coração.
O chargista era um dos profissionais de imprensa mais premiados do estado. Em 2020, recebeu o primeiro lugar na categoria Charge do Prêmio ARI/Banrisul de Jornalismo, com ‘Militares na Saúde’, publicada no jornal ‘ABC’.
Recebeu vários reconhecimentos ao longo da carreira. Chegou a ser premiado mais de 20 vezes pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI), tanto pelas charges quanto por seus projetos gráficos.
Em 2015 recebeu o prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, promovido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“Tacho era um dos cartunistas mais geniais do Brasil. Seu traço simples leve e despretensioso e suas piadas elegantes com posicionamento político definido e humor crítico contundente, muitas vezes salvava um desenho pueril com uma ideia arrebatadora”, completa o chargista Augusto Bier.
Tacho deixou a filha Helena Tatsch, a esposa Nara - com quem era casado há 36 anos - e uma legião de fãs.
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