- Marineth, a frase impactante, acima, que dá título à crônica, teria sido dita pelo general Edson Leal Pujol, ex-comandante do Exército, em Brasília, depois dele ter sido demitido do cargo. Foi publicada pelo jornalista Ancelmo Gois, na coluna do jornal O Globo, dia 21 de abril. Data que homenageia o herói da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, que foi enforcado e esquartejado em 1792. A nota à qual reclamava da atuação do ex-ministro da Saúde, Pujol comentou que “Pazuello, quando Bolsonaro lhe proibiu de comprar vacinas, você deveria ter pedido demissão. Obedecendo, você se ferrou e nos ferrou junto”.
- Athaliba, a fricção entre os generais Pujol e Pazuello é muito grave, institucionalmente. E será que pode resultar em PADM - Processo Administrativo Disciplinar Militar? Esse tipo de ação, em âmbito interno, na administração pública, tem o objetivo de averiguar transgressões, e se for comprovado, consequentemente, o servidor fica sujeito à sanção disciplinar ao ilícito cometido.
- Marineth, a nota do jornalista Ancelmo Gois, sergipano da cidade de Frei Paulo, retumbou como rastilho de pólvora em muitos jornais e sites de notícias na nossa pátria amada. E replicou em redes sociais com diversificados comentários. Porém, tentando abafar o assunto de ampla repercussão, o CCSM - Centro de Comunicação Social do Exército - divulgou nota de esclarecimento no site do Ministério da Defesa. Sob o título “Ex-comandante Edson Pujol diz que Eduardo Pazuello ferrou o Exército” o comunicado expõe que “O gen. Edson Pujol não teve nenhum diálogo com o gen. Pazuello, nem jamais fez qualquer tipo de comentário, juízo de valor, crítica ou sugestão sobre o tema vacinas, nem sobre outros aspectos do trabalho do general Pazuello à frente do Ministério da Saúde”.
- Athaliba, é verdade ou é mentira? Nesse caso, o estrago já tinha corrido o mundo.
- Sim, Marineth, o Ancelmo é experiente. Não é de dar “barrigada”. A nota do CCSM soou como o ditado popular: “Agora Inês é morta”. Usado para sinalizar situação irreversível. A história da Inês é real. Ela e Pedro I de Portugal, casado com Constança e filho do rei Afonso IV, viveram amor proibido. Com a morte da mulher, Pedro resgatou Inês do exílio. Tiveram filhos. O monarca, por vingança, ordenou a morte dela. E Pedro, contido do ímpeto de vingança teria dito de forma resignada: “Agora Inês é morta”. Quando o rei morreu, mandou matar os assassinos de Inês. E revelou que havia casado com ela às escondidas. E, assim, na cerimônia de coroação, exigiu que Inês também fosse coroada, mesmo morta. Desenterrada, recebia saudações de súditos e nobres que lhe beijavam as mãos.
- Athaliba, essa história é muito trágica!
- Marineth, pode ser que daí, do ocorrido entre 1323/1355, quando se diz que “agora Inês é morta”, significa ponto derradeiro de qualquer caso/fato revelado. E, agora, de concreto, o general Pazuello, ex-ministro da Saúde, que voltou à ativa no Exército, tem que prestar esclarecimentos à Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI - instalada no senado para apurar omissões do governo federal no combate da pandemia do COVID-19. A atuação dele, considerado incapaz na função, é alvo de investigações no Tribunal de Contas da União - TCU - e no Ministério Público Federal - MPF.
- Athaliba, aquela cena do vídeo do general e o capitão em que Pazuello disse sorrindo que “um manda e o outro obedece”, ao ser repreendido por Bolsonaro, mostrou para a população brasileira, com repercussão no exterior, alto nível de subserviência.
- Marineth, a cena já entrou para a história como filme trapalhão, tipo “O gordo e o magro”. Foi em outubro passado. O presidente desautorizou o então ministro Pazuello a comprar vacinas da Coronavac. Em reunião com governadores anunciara que o Brasil compraria 46 milhões de doses do imunizante, tendo enviado antes ofício ao Instituto Butantan confirmando a intenção de aquisição das vacinas.
- Mas, Athaliba, o presidente ficou possesso.
- Pois é, Marineth. Ele disse que “o povo brasileiro não será cobaia de ninguém; não se justifica um bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem; e diante do exposto minha decisão é a de não adquirir a referida vacina. Não abro mão da minha autoridade!”.
- Athaliba, a expressão “tenho dito” ficou oculta, né? Mas, explícita na tragédia!!!
Comentários
Pazuello pensou primeiro no seu e não se preocupou com a imagem do Exército. Comprometeu, sim, a imagem da instituição junto à população.