Rio - Na Grécia antiga, desde o tempo de Cleópatra, o suicídio gozava de tal relevância que se fundou a Academia de Sinapotumenos que, em grego, significa "matar juntos".
De lá para cá, muito se escreveu sobre o suicídio.
Os poetas foram os artistas que mais escreveram sobre o tema. E, provavelmente, os que mais se suicidaram. A vida parece ser pequena demais para alguns poetas: e muitos encontraram no suicídio, o fim trágico.
Li, recentemente, um artigo no site Obvious, escrito por Raquel Avolio, sobre cinco poetas que se mataram.
MARINA TSVETAEVA - Marina Tsvetaeva, poeta russa nascida em 8 de Outubro do ano de 1892 e falecida em 31 de Agosto de 1941, afirmou certa vez: “Há algo que eu não soube fazer: viver”.
Sua obra é tida como um dos marcos da literatura russa do século vinte, e foi admirada por diversos poetas de seu tempo: Rainer Maria Rilke e Boris Pasternak são exemplos a serem citados.
Prevendo que sua relativa falta de reconhecimento em vida seria revertida um dia, escreveu os seguintes versos:
“Por entre o pó das livrarias, disperso por todo canto / E nunca comprados por ninguém / Porém similares aos vinhos preciosos, meus versos esperam / Seus tempos virão”.
Ela se enforcou, após uma vida conturbada em meio ao cenário caótico de revolução e fome em sua terra natal.
SYLVIA PLATH - Sylvia Plath, poeta e romancista americana nascida em 27 de Outubro de 1932 e falecida em 11 de Fevereiro de 1963, talvez a maior, mais popular e mais cultuada figura do cânone dos poetas suicidas.
Desconhecida enquanto viva e transformada em ícone após a morte, Plath foi atormentada por sua própria mente durante toda a vida.
Ela deixou dois copos de leite no quarto dos filhos que dormiam, vedou as portas de toda a casa com toalhas molhadas, foi até a cozinha, abriu o gás e repousou a cabeça no fundo de seu fogão.
Em um de seus poemas mais emblemáticos, “Lady Lazarus”, Sylvia Plath diz: “Morrer / É uma arte, como tudo o mais. / Eu faço isso excepcionalmente bem. / Eu faço de forma a parecer infernal. / Eu faço parecer real. / Pode-se dizer que tenho uma vocação”.
ANNE SEXTON - Nascida em 9 de Novembro de 1928 e falecida em 4 de Outubro de 1974, Anne Sexton certamente flertou com a morte mais vezes do que qualquer outra participante do grupo dos poetas suicidas.
Ao saber da notícia do falecimento de Plath, Sexton comentou: “essa morte era minha, esse foi um excelente momento na carreira”.
Sua obra pode ser vista como uma extensa documentação poética de sua luta contra inúmeras tormentas pessoais, que vão desde o sentimento de inadequação em diversas áreas de sua vida até o grave desequilíbrio mental que tanto lhe assombrou e inspirou.
Começou a escrever por aconselhamento de seu psiquiatra, e o que deveria ser um auxílio na terapia tornou-se uma carreira profissional.
Ela conquistou o prêmio Pulitzer no ano de 1967, por seu livro Live or Die. Em “Wanting to Die”, um dos poemas do livro em questão, Anne versa sobre o suicídio e sobre os motivos e consequências do ato, além de falar com lucidez sobre sua fixação com a morte:
“A morte é um triste osso; fraturado, dirias, / e, apesar disso, ela me espera ano após ano, / Para delicadamente sarar uma ferida antiga, / para livrar minha respiração de sua prisão perversa.”
Perto do fim de sua vida, havia se transformado em uma alcoólatra solitária e instável, e sua criatividade estava deteriorada.
Após numerosas tentativas de suicídio, foi numa sexta-feira ensolarada que Anne Sexton encontrou a morte: vestiu o casaco de peles de sua mãe, serviu-se de algumas doses de vodca, entrou em sua garagem, sentou-se em seu carro, ligou a ignição e o rádio.
ANA CRISTINA C. - A carioca Ana Cristina Cesar também possui um lugar no grupo das mulheres trágicas da poesia. A poeta e tradutora nascida em 2 de Junho de 1952 e falecida em 29 de Outubro de 1983 escreveu: “Eu não sabia / que virar pelo avesso / era uma experiência mortal”.
Ana C., como também ficou conhecida, atirou-se da janela do apartamento de seus pais em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro. Ela vinha sofrendo de uma depressão profunda. Um de seus poemas mais conhecidos chama-se “Psicografia”: “Também eu saio à revelia / e procuro uma síntese nas demoras / cato obsessões com fria têmpera e digo / do coração: não soube / e digo da palavra: não digo (não posso ainda acreditar na vida) e demito o verso como quem acena / e vivo como quem despede a raiva de ter visto”.
FLORBELA ESPANCA - A portuguesa Florbela Espanca, também teve muito a dizer a respeito de dores pessoais e inquietações do espírito, tendo levado uma vida bastante conturbada e marcada por eventos traumáticos.
Nascida em 8 de Dezembro de 1894 e falecida no dia de seu aniversário no ano de 1930, Florbela nasceu Flor Bela de Alma da Conceição.
Florbela foi uma das primeiras mulheres em seu país a receber instrução superior, trabalhou também como jornalista, e escreveu alguns contos.
Tendo sofrido um aborto, a escritora passou a apresentar sinais de desequilíbrio mental.
Florbela Espanca, que, mesmo adoentada, não deixou de escrever, tentaria o suicídio mais duas vezes: uma em Outubro, outra em Novembro de 1930, às vésperas do lançamento de seu livro Charneca em Flor. Foi diagnosticada com um edema pulmonar, e, no dia em que completaria trinta e seis anos, veio a falecer em decorrência de uma overdose de barbitúricos.
Florbela finalizou um de seus poemas, intitulado “Amar”, dando voz aos sofrimentos de todas as poetas que encontrariam um fim como o dela:
“E se um dia hei de ser pó, cinza e nada / Que seja a minha noite uma alvorada, / Que eu saiba me perder / pra me encontrar”.
Comentários