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O PASQUIM CINQUENTÃO

EDIEL RIBEIRO
EDIEL RIBEIRO. (ARQUIVO)

Aproveitando as férias no jornal, fomos, eu e a Sheila, visitar a linda exposição em homenagem aos 50 anos d'O Pasquim, no Sesc-Ipiranga, em São Paulo.

Com curadoria de Zélio Alves Pinto e Fernando Coelho Santos, a exposição "O Pasquim 50 anos", comemora o aniversário de meio século do debochado tablóide carioca.

Parece que foi ontem que o jornal - um projeto dos jornalista Tarso de Castro, Sérgio Cabral (o pai) e do cartunista Jaguar - nasceu.

Era junho de 1969 - em plena Ditadura Militar (1964-1985). Sufocado pela repressão sem limites do AI-5 “O Pasquim” surgiu com seu ar cômico e irreverente, desafiando os preceitos morais da elite carioca e debochando da ditadura.

Cada um tem o cinquentenário que pode, deixam, ou merece.

Mas, "O Pasquim" merecia mais.

Principalmente, do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu, cresceu e fez enorme sucesso.

No Rio, ninguém lembrou que o jornaleco - tão importante para a cultura, a arte, a política e o humor carioca - fez 50 anos.

Mas São Paulo, onde ele atingiu a independência e a maioridade, lembrou, e aqui estamos nós: 50 anos depois da primeira edição do tablóide que marcou o jornalismo brasileiro.

EDIEL RIBEIRO E SHEILA
Ediel Ribeiro e Sheila na redação d´O Pasquim (arquivo do autor)

A exposição, que ocupa toda a unidade, é de encher os olhos. Totens, em tamanho natural, representando Tarso de Castro, Jaguar, Millôr Fernandes, Fortuna, Olga Savary, Nani, e outros, espalhados pela área dos jardins, dão as boas vindas aos visitantes.

Na sala “Pasquim Ativista”, cartazes e placas com frases cobrem as paredes lembrando o comprometimento do semanário com a política, o humor e a luta contra a repressão.

Com capas espalhadas pelas paredes, a intervenção “O Som do Pasquim” lembra os discos de vinil lançados pelo selo da editora do jornal ao longo da história. Com fones de ouvidos, você pode escutar a gravação original de “Águas de Março”, de Tom Jobim e discos de Caetano Veloso, Jorge Ben e Trio Mocotó, entre outros.

Nas paredes do Solário, em uma área aberta, estão expostas frases-temas e slogans publicados nas edições do jornal, entre elas “Pasquim, um jornal a favor do contra”; “Em terra de cego quem lê O Pasquim é rei” e “Um jornal que não se vende a não ser aos seus leitores”...entre outras.

Histórias em quadrinhos, expostas em estruturas giratórias, apresentam trabalhos de artistas como Luiz Gê, Paulo Caruso, Miguel Paiva, Amorim e Pryscila Vieira, entre outros.

Na “redação” d´O Pasquim, localizada no espaço galpão, os visitantes são apresentados, por meio de 24 rotativas, a diversos trabalhos publicados nas 1.072 edições do jornal. Além disso, os visitantes podem ouvir histórias do jornal contadas nas vozes de Sérgio Cabral, Jaguar e Millôr Fernandes, em antigos telefones e até redigir seus próprios textos em velhas máquinas de escrever manuais, como era nas redações da época.

Ao lado da redação, uma instalação - com beliches iguais aos dos quartéis do exército - representa o clima sombrio da prisão dos integrantes naqueles anos de chumbo (novembro de 1970), conhecido como “A Gripe do Pasquim”, um dos acontecimentos mais marcantes da história do jornaleco.

Os mais novos talvez não acreditem, mas, nos anos 70,  jornais, revistas, peças de teatro,  programas de rádio e várias outras manifestações artísticas e culturais eram proibidas.

"O Pasquim" foi um deles.

Depois dali, enquanto tomávamos um café no Starbucks, pensei: ainda bem que existem exposições como esta para não nos deixar esquecer da história.

 

SERVIÇO: Exposição “O Pasquim 50 anos” no Sesc-Ipiranga, até 12 de abril de 2020, de terça a sexta, das 9h às 21h30; sábados, das 10h às 21h30; domingos e feriados, das 10h às 18h30. A entrada é gratuita.

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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