Em entrevista ao programa Roda Viva, o ex-presidente Michel Temer (MDB) afirmou que “jamais apoiou ou fez empenho pelo golpe” ao responder sobre as críticas recebidas durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.
"Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe. Aliás, muito recentemente, o jornal Folha detectou um telefonema onde o ex-presidente Lula me deu, onde ele pleiteava e depois esteve comigo para trazer o PMDB para impedir o impedimento. E eu tentei, mas a esta altura, eu confesso, que a movimentação popular era tão grande e tão intensa que os partidos já estavam mais ou menos vocacionados para a ideia do impedimento", disse Temer.
A ligação citada por Temer foi divulgada pela Vaza Jato, publicada pelo jornal Folha de São Paulo em parceria com o site The Intercept Brasil, na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva liga para Temer para tentar convencê-lo a ajudar a barrar o processo de impeachment de Dilma.
Na ocasião, foi oferecido à Lula o cargo de ministro chefe da Casa Civil. À época da divulgação, a tese elaborada era de que o cargo seria para que Lula se blindasse das acusações da Operação Lava Jato.
As mensagens privadas trocadas entre os procuradores da Lava Jato mostram que o ex-juiz e atual ministro da Justiça, Sergio Moro, divulgou apenas parte dos áudios interceptados pela Polícia Federal a partir de um grampo no ex-presidente petista.
Na entrevista ao programa da TV Cultura, Temer reforça que a movimentação de Lula estava atrelada à evitar o impedimento de Dilma.
“Depois ele [Lula] esteve comigo, no pavilhão das autoridades, conversando comigo sobre o impedimento. O fundamento básico dele foi tentar trazer o PMDB e outros partidos no sentido de negar a possibilidade de impedimento (...) Se ele fosse chefe da Casa Civil, é muito provável —ele tinha bom contato com o Congresso Nacional— que não se conseguiria fazer o impeachment. Disso não tenho dúvida”, disse Temer.
Conjuntura nacional e Bolsonaro
Ao ser questionado sobre a conjuntura política do País e o que culminou na eleição do presidente Jair Bolsonaro (PSL), Temer afastou relação entre o impeachment de Dilma e vitória do ex-capitão.
“Eu não faço exatamente esta conexão [entre impeachment e eleição de Bolsonaro]. No Brasil, de tempos em tempos, as pessoas querem mudar tudo. Aconteceu na eleição do Lula, há mais de 15, 18 anos atras, aconteceu agora com o Bolsonaro. Houve uma onda para tentar mudar tudo que estava presente política e administrativamente”, argumentou.
Temer ainda descartou uma escalada de autoritarismo porque as instituições “funcionaram tranquilamente de 88 até essa data.”
“Não vejo como poderíamos, com uma imprensa livre que nós temos, com uma consciência democrática extraordinária que permeia a mentalidade de toda a classe política brasileira, e mais, que toma a conta do pensamento de todos os brasileiros, então não vejo como podemos caminhar para um sistema autoritário.”
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