Política

MP afirma que Eduardo Cunha tem US$ 13 milhões escondidos no exterior

Procuradores dizem que patrimônio do ex-deputado inclui carros pagos pelo doleiro Lúcio Funaro

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem pelo menos US$ 13 milhões (R$ 40 milhões) em patrimônio oculto e não localizado, segundo a força-tarefa da Operação Lava-Jato no Ministério Público. No pedido que levou à prisão do ex-deputado, os procuradores afirmam que os bens do peemedebista — alvo de duas ações penais, cinco inquéritos e uma ação de improbidade administrativa no caso — são 53 vezes mais valiosos do que ele declarou às autoridades.

Uma frota de oito carros utilizados pela família soma R$ 1,3 milhão. E, para o Ministério Público, ao menos parte foi comprada com dinheiro do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, preso em Brasília por ordem do Supremo Tribunal Federal. Ontem, Cunha passou seu segundo dia na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, cidade onde fez exames no Instituto Médico Legal.

A defesa de Cunha tem alegado que a prisão é ilegal. Ontem, eles preferiram não comentar esse tema específico. “Não vou falar”, afirmou a advogada Fernanda Tórtima. “Só vou falar nos autos.” A defesa de Funaro afirmou que os carros comprados foram “devidamente cobrados” do ex-deputado.

A acusação a que Cunha responde e que o levou à cadeia trata do recebimento de US$ 1,5 milhão em contas secretas na Suíça. Os valores, diz a o Ministério Público Federal, eram parte da propina paga pelo empresário português Idalécio de Oliveira, da Lusitânia Petroleum, a vários agentes políticos e funcionários da Petrobras depois que ele vendeu um poço petrolífero seco para a Petrobras por US$ 66 milhões em Benin, na África. O operador dos subornos era o lobista do PMDB João Augusto Henriques, preso no Paraná.

No pedido de prisão apresentado ao juiz Sérgio Moro em 10 de outubro, os procuradores do MPF lembram que Cunha afirmou ao banco Merril Lynch, em 2008, que tinha US$ 11 milhões em bens. No entanto, ao abrir a conta em nome da offshore Triumph SP, revelou patrimônio de US$ 20 milhões. Seriam R$ 64 milhões, na cotação calculada pela força-tarefa da Lava-Jato, ou seja 53 vezes maior que os R$ 1,2 milhão declarados por ele em 2007.

Até o momento, a Justiça conseguiu obter apenas 2,34 milhões de francos suíços (cerca de R$ 9,4 milhões) em contas de Cunha na Suíça. No entanto, os procuradores entendem que há pelo menos US$ 13 milhões (R$ 40 milhões) não localizados. “As demais contas suíças foram fechadas pelo ex-deputado federal, sendo que permanece oculto um patrimônio de aproximadamente US$ 13 milhões”, anotam os integrantes da força-tarefa no pedido de prisão.

“Também não se tem conhecimento da localização das possíveis contas existentes em nome de Eduardo Cunha nos Estados Unidos, constando dos documentos suíços que a conta no Merril Lynch em Nova York teria sido fechada no ano de 2008.”

De acordo com o Ministério Público, o ex-deputado mantinha, “até pouco tempo”, uma caixa postal para receber correspondências em Nova York. Para eles, isso “levanta indícios concretos da existência de outras contas ocultas das autoridades públicas”.

Ao abrir uma de suas contas, o ex-deputado informou que os bens tinham origem em aplicações no mercado financeiro local e do investimento no mercado imobiliário do Rio de Janeiro. O defensor de Funaro negou que seu cliente, considerado “operador de propinas de Cunha”, pagou carros para o ex-deputado. “Todos esses carros foram objeto de contrato entre o Lúcio e o Eduardo”, disse Daniel Gerber. “Todos os contratos foram registrados, declarados, oficiados e devidamente cobrados. Não existe absolutamente nada de ilícito nessa situação. O Ministério Público usa isso, neste momento, exclusivamente, para angariar manchete.”

Exame

Ontem, Eduardo Cunha saiu da carceragem da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida em Curitiba, e seguiu para o IML a fim de fazer o exame de corpo de delito. Ele foi escoltado por outros agentes da polícia, que usavam uma máscara para proteger seus rostos. De acordo com fontes ouvidas pelo Correio, os agentes evitaram “roubar a cena”, para não serem os próximos alvos de comentários em redes sociais.

Frota familiar

Confira quais são os veículos da família Cunha, alguns adquiridos com dinheiro de Funaro, segundo o MPF

Carro Valor (R$)

LR Freelander 2007/08 100 mil
Hyundai Tucson 2008/09 80 mil
VW Tiguan 2010/11 110 mil
VW Passat Var 2003/04 77 mil
Porsche Cayenne prata 2006 310 mil
Ford Edge prata 2013 122 mil
Ford Fusion 2013 143 mil
Porsche Cayenne azul 2013 375 mil
Total 1,3 milhão

Advogados hostilizados

Advogados que integram a banca do ex-deputado Eduardo Cunha foram hostilizados em Curitiba. Eles deixavam a Superintendência da Polícia Federal na quarta-feira, quando foram abordados por manifestantes que se queixavam do fato de defenderem Eduardo Cunha. Os principais alvos das agressões verbais foram Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, de Brasília. A dupla era acompanhada por mais três defensores de escritório contratado de Curitiba: Mariana Micheloto, Luiz Juraski e Gilson Goulart. A Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná repudiou a ação. “Não se confunde, jamais, o papel do advogado com as acusações ou atos imputados a seus clientes.”

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