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Famílias de desaparecidos de 50 países trocam experiências em conferência internacional organizada pela Cruz Vermelha

Delegação brasileira leva à Genebra a experiência de articulação nacional e cobra avanços em políticas públicas de busca

Paulo Pinto | ABR. 

Representantes de cerca de 900 pessoas, vindas de 50 países, encerram nesta quinta-feira (13) a 4ª Conferência Internacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas. O evento, promovido pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e pelas sociedades nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, ocorre de forma simultânea em vários países, com núcleo presencial em Genebra, na Suíça.

O Brasil participa com uma delegação de mais de 50 integrantes, reunidos na sede do CICV em São Paulo. Representantes de associações de familiares de nove estados acompanham as discussões virtualmente e compartilham experiências sobre busca, apoio e articulação política.

Fernanda Baldo, oficial de Proteção do CICV, destacou que o encontro fortalece a rede entre grupos que lidam com diferentes tipos de desaparecimentos no país. “Temos familiares de desaparecidos do regime militar e de outros contextos de violência. Essa diversidade enriquece o debate e ajuda a construir estratégias conjuntas de diálogo com as autoridades”, explicou.

O grupo brasileiro também apresenta na conferência a experiência de criação do Movimento Nacional de Familiares de Pessoas Desaparecidas, formado em 2024 e lançado oficialmente em agosto de 2025. A rede reúne organizações como Mães da Sé, Mães em Luta e a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos.

Entre as principais demandas levadas à discussão estão a criação do Banco Nacional de Amostras Genéticas, a integração do Cadastro Nacional de Desaparecidos e a efetiva implementação da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas.

Origem da mobilização no país

A articulação entre familiares ganhou força em 2015, quando o CICV apoiou grupos ligados à vala clandestina de Perus, em São Paulo, usada na ditadura militar. O trabalho de identificação das ossadas, feito com apoio de universidades e familiares, se tornou referência.

“Foi um processo de amadurecimento e união, superando divergências e construindo uma voz única”, contou Hânya Pereira Rego, integrante do Movimento Nacional e filha de um desaparecido político desde 1975. Ela participou da organização da conferência deste ano.

Troca internacional

Além das experiências brasileiras, o evento destacou relatos de outros países. O colombiano José Benjamim Gamboa Lizarazo, da Asociación de Familiares de Detenidos Desaparecidos (Asfaddes), lembrou que a Colômbia luta há mais de 40 anos para identificar vítimas do conflito armado. “Temos avanços, mas ainda precisamos de medidas mais efetivas. As famílias seguem pressionando o Estado e exigindo dignidade para os desaparecidos”, afirmou.

Encerramento e próximos passos

O evento termina com a divulgação de uma carta das famílias, que será publicada nos canais da Cruz Vermelha. O documento deve reunir propostas e compromissos assumidos durante as discussões.

Familiares interessados em participar de futuras mobilizações podem procurar associações locais ou o próprio CICV, que mantém redes de apoio e orientação em todo o país.

 

*Com informações da Agência Brasil

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