
Rio de Janeiro - Na minha infância, nós não tínhamos televisão. Era coisa de rico. Na época, minha mãe tinha na sala da nossa casa um antigo rádio de válvulas e madeira da marca ‘ABC A Voz de Ouro’.
Nele, minha mãe ouvia, com os olhos em lágrimas, as radionovelas ‘Escrava Isaura’, ‘Espelho da Vida’ e, a mais famosa: ‘O Direito de Nascer’, do cubano Félix Caignet, que ficou três anos no ar.
Eu ouvia os jogos de futebol nas rádios Nacional, Globo e Tupi e o programa ‘Turma da Maré Mansa’, um dos maiores programas humorísticos da rádio, naquela época. A ‘Turma da Maré Mansa’ foi um sucesso estrondoso. O programa era patrocinado pela rede de lojas ‘Impecável’, uma das mais importantes lojas de varejo de moda do Rio. O sucesso foi tão grande que a loja passou a ser chamada de “Impecável Maré Mansa”. O programa ia ao ar todos os dias, das 21 às 22h, exceto quando havia transmissão de futebol.
Apresentado pelo radialista Antonio Luiz, o programa reunia em seu elenco importantes nomes do humor nacional, como Chico Anysio, Jô Soares, Orlando Drummond, Mário Tupinambá, Brandão Filho, Zezé Macedo, Francisco Milani, Rogério Cardoso e Os Trapalhões, entre outros. Personagens icônicos marcaram presença na ‘Turma’, como o célebre ‘Saraiva’, o sujeito nervosinho que não suportava perguntas imbecis e a ‘Velha surda’. Além de provocar gargalhadas na audiência, o programa ajudou a popularizar o rádio nos lares brasileiros.
Além de patrocinador, o dono da rede de lojas, Antônio Leite Sampaio, passou a dirigir o programa, sendo ele, Chico Anysio, Jô Soares e o jornalista Áureo Ameno os autores das piadas.
A Turma da Maré Mansa estreou na Rádio Mauá na década de 1960 com locução de Cid Moreira. Na década seguinte, migrou para a Rádio Tupi, — onde passou a ser apresentado por Antônio Luiz Vendramini. Em 1985, tornou-se parte da programação da Rádio Globo.
Outra aposta de marketing da Impecável Maré Mansa, foram os jingles. Um deles, inclusive, foi gravado pelo Rei do Baião, Luiz Gonzaga: “A Impecável veste o trabalhador/ Vai escolher a roupa que agradar/ Sem entrada e sem fiador/ Basta um ano, sim sinhô, de carteira assinada”.
As propagandas, chamadas de ‘reclames’, marcaram época, na ‘Era de Ouro do Rádio’, ficando gravadas na memória dos ouvintes. Quem não se lembra do popular “Melhoral, Melhoral, é melhor e não faz mal”; da “Emulsão de Scott”; do “Biotônico Fontoura”. das “Pílulas de Vida do Dr. Rossi”; das calças de “Tergal” que não amassavam nem perdiam o vinco, do bordão “senta, levanta” e do “Rhum Creosotado”, que, além de ser veiculado nas emissoras de rádio, mantinha cartazes nos bondes, onde advertiam: “Veja ilustre passageiro, o belo tipo faceiro que o senhor tem ao seu lado. No entanto, acredite, quase morreu de bronquite. Salvou-o o Rhum Creosotado?”
Eu lembro! Porra, tô ficando velho!
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