Brasil

Tarcísio radicaliza e tenta herdar espaço da família Bolsonaro

Governador de São Paulo ataca STF em ato do 7 de Setembro, reforça discurso bolsonarista e conta com apoio de líderes religiosos como Malafaia e Sóstenes Cavalcante

As manifestações de 7 de Setembro em São Paulo, neste domingo (7), mostraram uma guinada no tom do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em discurso na Avenida Paulista, Tarcísio atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o ministro Alexandre de Moraes, numa tentativa clara de se aproximar da base bolsonarista e disputar a liderança da direita após o enfraquecimento político de Jair Bolsonaro.

Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país”, disse Tarcísio, em fala que arrancou aplausos da multidão. A retórica ecoa a do próprio Bolsonaro, que construiu sua base eleitoral a partir do embate com as instituições.

Pastores na linha de frente

O ato também revelou o peso das lideranças religiosas na mobilização. O pastor Silas Malafaia e o pastor e deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) estiveram na linha de frente dos discursos. Ambos atacaram o STF, defenderam anistia a Bolsonaro e aos condenados do 8 de janeiro e buscaram reafirmar o papel das igrejas como pilar do bolsonarismo.

Sóstenes chegou a exaltar o verde e amarelo como símbolos de resistência: “O Brasil jamais será vermelho. Aqui está o povo, a multidão do Brasil veste verde e amarelo”, declarou. O discurso nacionalista, no entanto, contrastava com as imagens da manifestação, onde se viam bandeiras de Israel e dos Estados Unidos, além de cartazes escritos em inglês e outros idiomas estrangeiros.

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil.

Uma tentativa de "corrigir erros"

Analistas apontam que a atuação destacada de Malafaia e Sóstenes pode ser interpretada como uma tentativa de “corrigir” erros do passado. Ambos estiveram entre os que incentivaram fiéis a ocupar as ruas em 2022 e no início de 2023. O resultado foi o envolvimento direto de muitos desses fiéis nos ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro, com parte significativa dos presos vinculados a igrejas evangélicas.

O risco da fusão entre religião e política

A presença de líderes religiosos na linha de frente da política brasileira levanta alertas sobre os limites entre fé e democracia. Ao utilizar a religião como ferramenta de mobilização, o bolsonarismo se apoia em um vínculo de obediência e lealdade espiritual que enfraquece a autonomia dos cidadãos.

Especialistas lembram que a mistura entre política e religião já levou países como Afeganistão e Paquistão a experiências de radicalismo, nas quais líderes religiosos passaram a ditar normas sociais e políticas. Para críticos, o Brasil corre risco semelhante caso a instrumentalização da fé siga avançando como combustível de projetos autoritários.

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