Coluna

POR QUE REZAR?

Juiz de Fora (MG) - Certa vez, questionei um pároco católico sobre a presença de imagens em uma igreja. Ele me respondeu com uma pergunta: Você tem as fotos dos seus parentes nas paredes ou sobre algum móvel, ou mesmo guardadas com você? Sim, eu respondi. Meu caro, ele disse, essas imagens são as fotos dos mártires da igreja, ou sejam, os nossos retratos. E continuou: em alguns templos muito antigos as imagens fazem parte da história. Você pode observar que nas igrejas mais recentes o mesmo não ocorre.

Na verdade, eu estava preparando a grande questão, como para pregar uma peça, e perguntei, novamente: Então por que as pessoas rezam diante das imagens, já que são apenas fotografias, como o senhor disse? Ele entendeu a minha pegadinha e disse que muitas pessoas, já idosas, rezam porque assim lhes foi dito e, imagina você, se nós dissermos a elas que nada daquilo vale? E eu perguntei: E o que se pode fazer? Nada, ele me respondeu, com certeza essa prece vai chegar ao lugar certo.

Foto: Chris Liverani / Unsplash - 

Em seguida, ele me advertiu: Mas você e muitos outros sabem. Portanto, dirija a sua prece dentro de você mesmo.

Pode ser questionável a postura dele e, quiçá, de outros. E aí vem a minha questão: por que rezar?

“Mais vale aquele que reza atrás das colunas do templo do que no átrio para que todos o vejam”.

Quando rezamos, é como se fosse um mantra que nos traz a tranquilidade, uma tentativa de reequilibrar o espírito diante dos infortúnios, durante as alegrias e durante as incertezas. Cada prece é carregada de um desejo, e nisso as preces se diferenciam umas das outras. Muitos pedem coisas ligadas ao mundo material, quando a prece, chegando ao lugar correto, deveria pedir a paz, a sabedoria e a coragem para enfrentar o mundo que criamos. 

Se pedimos coisas materiais como o dinheiro ou um outro bem que nos ajudem a solucionar um negócio do qual nos arrependemos, ou que desejamos sucesso, creio que esse lugar certo seja incerto.

Se vamos pedir alguma interseção, que ela seja para o nosso espírito, nosso corpo, desde que estejamos fazendo a nossa parte. E se não conseguimos, a paz e a coragem para enfrentar as adversidades, e os nossos pedidos mostram que não estamos seguros e corajosos; a carne se mostra fraca e o espírito desmorona.

Se alguém tem a oportunidade de ver algo material ser atendido, por certo não está vindo a solução de algum lugar correto ou alguém está por trás disso. E alguém ligado ao mundo da matéria e não ao do espírito.

Rezar, encontrar o divino, através de palavras é algo majestoso, magistral e fantástico. A fé que colocamos para resolver os nossos problemas é mais um conforto pessoal do que a possibilidade do seu atendimento. Na vida, algumas coincidências parecem milagres, quando são apenas coincidências. Algumas, no entanto, são tão perfeitas que parecem ter vindas do lugar certo. 

Se para conseguir alguma coisa material é necessário tirar de alguém este bem, a coincidência não bate com o espírito. No entanto, algumas são tão encaixadas e chegam como um presente que são mais do que coincidências. Talvez pela constância da prece ao pedir paz, sabedoria e coragem.

Nilson Lattari

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Crônicas e Contos

NILSON LATTARI é carioca e atualmente morando em Juiz de Fora (MG). Escritor e blogueiro no site www.nilsonlattari.com.br, vencedor duas vezes do Prêmio UFF de Literatura (2011 e 2014) e Prêmio Darcy Ribeiro (Ribeirão Preto 2014). Finalista em livro de contos no Prêmio SESC de Literatura 2013 e em romance no Prêmio Rio de Literatura 2016. Menções honrosas em crônicas, contos e poesias. Foi operador financeiro, mas lidar com números não é o mesmo que lidar com palavras. "Ambos levam ao infinito, porém, em veículos diferentes. As palavras, no entanto, são as únicas que podem se valer da imaginação para um universo inexato e sem explicação".

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