Brasil

Designer grávida morta a tiro

“Estou me descobrindo como mãe e fico assustada pensando em como vai ser... dou risada, choro e tenho medo. Um misto de sentimentos. Talvez os mais doidos do mundo, mas vou dar risada lá na frente disso tudo... obrigada Senhor por abençoar meu ventre e me permitir gerar o amor da minha vida”.

A manifestação de felicidade, mesclada a preocupações de temor que assusta a população do Rio de Janeiro no cotidiano, foi registrada por Kathlen de Oliveira Romeu, 24 anos, grávida de quatro meses, no perfil dela poucos dias antes de morrer com tiro na cabeça. O provável nome do bebê - Maya ou Zayon - também era anunciado em mensagens para os parentes e amigos. Esta realização da designer de interiores deixou de ser real dia 8/6, no Complexo do Lins, em meio à troca de tiros entre policiais militares e narcotraficantes.

O comando da Polícia Militar informou que policiais da Unidade de Polícia Pacificadora do Complexo do Lins, na Zona Norte, foram atacados por traficantes na localidade conhecida como “Beco da 14”. Foi apreendido um carregador de fuzil, munições de pistola e drogas. A Delegacia de Homicídios abriu inquérito para apurar o caso.

Kathlen, com o namorado Marcelo, exibiu a gravidez em rede social, anunciando o nome do bebê Maya ou Zayon. Reprodução
Kathlen, com o namorado Marcelo, exibiu a gravidez em rede social, anunciando o nome do bebê Maya ou Zayon. Reprodução - 

Marcelo Ramos, abalado com a morte violenta da namorada e do bebê, a homenageou em rede social afirmando que “nunca será esquecida meu amor, você a Maya/Zayon sempre irão morar dentro de mim; estou completamente sem chão, às vezes é difícil entender a vontade de Deus, mas sei que você está melhor que nós”.

Moradores da Favela do Lins protestaram após a morte de Kathlen, interditando a Estrada Grajaú-Jacarepaguá, que liga as Zonas Norte e Oeste, nos dois sentidos da via, com latas de lixo. O trânsito voltou à normalidade no início da noite de terça-feira.

O Instituto Fogo Cruzado registra que 15 grávidas foram baleadas desde 2017, sendo que oito delas morreram e que do total quatro foram baleadas em meio a ações policiais.

Artistas e representantes de instituições organizadas da sociedade civil se manifestaram em redes sociais sobre a morte da designer de interiores Kathlen Romeu.

A atriz Mônica Iozzi escreveu no Instagram que “a violência destruiu mais uma família no RJ. Kathlen Romeu, jovem negra de 24 anos e grávida de 4 meses, foi assassinada durante uma ação policial no Lins. Mais uma vez essa política de segurança pública insana, brutal e ineficaz tira a vida de inocentes. As mortes de Kathlen e de seu bebê são o atestado de óbito do RJ. Não reduziremos a violência colocando uma mulher grávida na linha de tiro. Não conseguiremos enfrentar o crime organizado com ações irresponsáveis que levam terror e morte p/ os moradores das favelas. O que essa política de segurança, baseada exclusivamente em confrontos armados nas áreas pobres, trouxe de positivo na redução da criminalidade? NADA. Hoje mais uma família chora e o RJ se torna um lugar ainda mais violento. Temos a polícia que mais mata e mais morre no mundo. O enfrentamento ao tráfico de drogas e às milícias tem que ser feito com menos tiros e mais investimentos em inteligência, em planejamento e na formação e qualificação dos policiais. Precisamos aprimorar os mecanismos de investigação e acabar com essa insanidade.⠀Minha solidariedade à família e aos amigos de Kathlen, aos moradores do Lins e de todas as favelas do RJ que sofrem com essa política de segurança pública desumana, violenta e ineficaz”.

A Coalizão Negra por Direitos manifestou que “é inaceitável a política de segurança pública genocida do Rio de Janeiro que hoje fez mais uma vítima, Kathlen Romeu, mulher negra de 24 anos, grávida de 4 meses, baleada durante uma ação da Polícia Militar, na comunidade do Lins, Zona Norte da capital. A política de morte do RJ, alinhada ao governo Bolsonaro, mantém em curso o genocídio do povo negro no Brasil. Exigimos a imediata investigação do caso, a responsabilização do Governador e do comando da Polícia Militar por mais essa operação irresponsável e criminosa e o afastamento dos policiais envolvidos no ação. Solidariedade à família de Kathlen, queremos justiça!

Comentários


  • 09-06-2021 22:13:06 Luiz Carlos Novaes de Araújo

    Ah! A vida é bela! O mundo é belo! É por isso que toda despedida é triste. E é isto que eu sinto: que a morte é uma saudades sem remédio. Jovem. Kathlen mais uma vítima de violência nesse país da impunidade