Nos últimos quatro dias, a movimentação no centro de Mariana (MG) foi intensa em razão do rompimento de duas barragens no distrito de Bento Rodrigues. Era possível encontrar moradores atingidos em locais de acolhimento, parentes em busca de desaparecidos, autoridades do governo federal, estadual e municipal e muitos curiosos.
Quase uma semana após a tragédia, a cidade parece começar a retomar seu ritmo. O movimento já não é mais o mesmo. O assunto já não está mais nas bocas de cada grupo que conversa na esquina. O fato preocupa, sobretudo, as pessoas diretamente afetadas pela tragédia e que contabilizam prejuízos e danos quase incalculáveis.
A lavradora Maria José Horta, 28 anos, morava no distrito de Ponte do Gama, atingido pelo rompimento das barragens. A casa dela ficou tomada pela lama e Maria está morando provisoriamente com os pais. A jovem conta que, nos primeiros dias após o acidente, foi bem atendida no acolhimento às vítimas.
"Hoje, retornei para acrescentar algumas informações ao cadastro, mas não consigo ninguém para me ajudar. A poeira está baixando rápido demais e isso preocupa muito. Tenho medo de ficar esquecida. A gente tem muita dificuldade para adquirir nossas coisas, para depois ver tudo indo embora em meio à lama."
O técnico em segurança do trabalho Airton Sales, 31 anos, costumava passar o fim de semana na casa da mãe, no distrito de Paracatu, também atingido pela tragédia. A irmã dele morava no povoado e estava reformando a casa para a chegada do filho que está esperando. Agora, estão todos hospedados em hotéis e pousadas de Mariana.
"Nossa preocupação é que, enquanto o assunto está na mídia, a empresa responsável pelas barragens vai dar suporte. Mas, como saber onde vamos estar depois de um ano desse acidente? Será que a mineradora vai continuar pagando as nossas diárias? Queremos saber para onde vamos e o que vai ser feito."
A pedagoga Edna Cerqueira Mol, 48 anos, tinha um sítio no mesmo local onde a mãe de Airton morava. A casa era boa, composta por quatro quartos, varanda, copa, sala. Ela, o marido e as três filhas trabalham e estudam em Mariana mas, nos fins de semana, procuravam descanso no local, hoje tomado pela lama e pelo barro.
"Esse sítio era o sonho da minha vida. Demorei 18 anos para deixar tudo como estava. Tínhamos piscina, sauna. Ficou tudo destruído" disse. "Graças a Deus, não fiquei desabrigada. Mas o prejuízo foi altíssimo e não é justo pagar essa conta."
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