O historiador, escritor e professor Joel Rufino dos Santos morreu nesta manhã (4), no Rio de Janeiro, aos 74 anos. Ele teve complicações após uma cirurgia cardíaca em 1º de setembro e não resistiu. Autor de mais de 50 livros de ficção e não-ficção, Rufino escrevia para adultos, jovens e crianças, ganhou alguns prêmios e foi indicado mais de uma vez ao Prêmio Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infantil.
O ativismo de Rufino no movimento negro foi destacado pela presidenta da Ong Crioula e membro Conselho Nacional de Igualdade Racial, Lucia Xavier. “O papel que ele exerceu, tanto do ponto de vista intelectual como político, nos últimos 30 anos, foi muito importante. Construiu novos instrumentos para trabalhar as culturas afro-brasileiras, e marcou sua vida política contra o racismo, apresentando novos estudos, mas também trazendo à tona temas do nosso interesse, e que modificavam o modo de pensar da sociedade brasileira”, disse. “Acima de tudo, ele era um ativista das causas humanas, fará muita falta na nossa vida.”
Lucia lembrou que, no mês passado, Rufino salvou a vida de um ladrão que era linchado em plena Copacabana, zona sul do Rio, incidente que foi noticiado na imprensa.
Desde fevereiro, Rufino trabalhava no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) como diretor-geral de Comunicação e de Difusão do Conhecimento. Na sua gestão, foram realizadas iniciativas inovadoras, como a dramatização do desenforcamento de Tiradentes e um baile charme no próprio tribunal.
O presidente do tribunal, desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, disse que a morte de Rufino é uma grande perda para os meios intelectuais e professores. “Uma alma generosa. Vamos guardar do professor os melhores exemplos. A nós, Joel Rufino vai deixar a semente do seu exemplo, de um homem dedicado ao humanismo e à causa pública”.
Em abril, o historiador participou da 2ª Bienal do Livro de Brasília em que foi um dos debatedores sobre a diáspora africana e a construção do país.
Nascido em Cascadura, zona norte do Rio, era filho de pernambucanos. Cursou história na antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a carreira de professor. Foi um dos co-autores da História Nova do Brasil, um marco da historiografia brasileira. Durante a ditadura militar, exilou-se na Bolívia e depois no Chile. Voltou ainda na ditadura clandestino e foi preso três vezes. As cartas que escreveu na prisão foram transformadas no livro Quando eu voltei, tive uma surpresa, em 2000.
Com a Lei da Anistia, foi reintegrado ao Ministério da Educação e convidado a dar aulas na graduação da Faculdade de Letras e, posteriormente, na pós-graduação da Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Obteve da universidade os títulos de Notório Saber e Alta Qualificação em História e Doutor em Comunicação e Cultura. Recebeu também, do Ministério da Cultura, a comenda da Ordem do Rio Branco, por seu trabalho pela cultura brasileira.
O corpo de Joel Rufino dos Santos será cremado, ainda hoje, em cerimônia reservada a parentes. Rufino deixa a esposa Teresa Garbayo dos Santos, os filhos Nelson e Juliana e os netos Eduardo, Raphael, Isabel e Victoria.
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