Brasil

Estudante morto na ditadura pode entrar para o Livro dos Heróis do Rio

Assembleia Legislativa aprova inclusão de Edson Luís, símbolo da resistência estudantil, entre os heróis e heroínas do estado

Acervo Biblioteca Nacional - 

Rio de Janeiro - A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou, nesta terça-feira (6), em segunda discussão, o projeto de lei que inscreve o nome do estudante Edson Luís de Lima Souto no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado do Rio de Janeiro. A proposta segue agora para sanção ou veto do governador Cláudio Castro, que tem até 15 dias úteis para decidir.

O Projeto de Lei 606/2023 é de autoria da deputada Dani Monteiro (PSOL) e tem como coautores os deputados Carlos Minc (PSB) e Luiz Paulo (PSD), ambos presentes na manifestação em que Edson foi assassinado, em 1968, no centro da capital fluminense, durante o regime militar.

Edson Luís, natural de Belém (PA), tinha apenas 18 anos quando foi morto a tiros pela polícia militar durante a invasão ao Restaurante Central dos Estudantes, conhecido como Calabouço, no dia 28 de março de 1968. O local era um dos principais pontos de encontro do movimento estudantil da época.

Na ocasião, uma manifestação pacífica contra o aumento do preço das refeições foi reprimida com violência. A morte do jovem causou forte comoção nacional, tornando-se um marco na luta contra a repressão do regime militar e impulsionando a mobilização popular contra a ditadura.

Reconhecimento histórico

“Quero referenciar o quanto Edson foi um herói, pois lutava diretamente pela democracia, pela educação e pelo direito à alimentação. Isso é o que nos motiva a colocar o seu nome no Livro de Heróis”, declarou a deputada Dani Monteiro durante a votação.

O deputado Luiz Paulo relembrou os eventos daquele dia: “Sou testemunha ocular da história deste assassinato praticado pela ditadura. Os estudantes pegaram o corpo dele e trouxeram para onde hoje é a Câmara Municipal. Eu estava presente porque, na época, também fazia parte do movimento estudantil”.

Carlos Minc, também presente na manifestação, detalhou a tentativa da polícia de remover o corpo de Edson para esvaziar o protesto. “O Edson levou um tiro no peito e a polícia tentou tirar o corpo para fazer a autópsia e acabar com o ato. Os médicos Jamil Haddad e Luiz Tenório fizeram a autópsia ali mesmo, no meio da manifestação, para impedir isso”, relatou.

Legado e memória

A morte de Edson Luís antecedeu momentos decisivos do endurecimento do regime militar, como o decreto do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em dezembro daquele mesmo ano. Seu velório e enterro foram acompanhados por milhares de pessoas e se transformaram em atos de resistência. O grito “mataram um estudante — e se fosse seu filho?” ecoou pelas ruas e fortaleceu a adesão de setores da sociedade, inclusive da classe média, ao movimento contra a ditadura.

A inclusão de seu nome no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado do Rio de Janeiro é uma forma de preservar sua memória e reconhecer sua importância na história política do país.

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