Polícia

Adolescente que matou a família em Itaperuna tratava vítimas como personagens de jogo, diz polícia

Crime foi incentivado por namoro virtual e influenciado por jogos violentos

familia morta em itaperuna
Reprodução / Redes Sociais - 

Rio de Janeiro - O assassinato brutal de uma família em Itaperuna, no interior do Rio de Janeiro, ganhou novos contornos à medida que a investigação avança. O adolescente de 14 anos que matou o pai, a mãe e o irmão de 3 anos teria agido com o incentivo da namorada, de 15 anos, com quem mantinha um relacionamento virtual. Segundo a Polícia Civil, ele tratava as vítimas como personagens de um jogo violento, consumido por ambos nas redes sociais.

O delegado Carlos Augusto Guimarães, da 143ª Delegacia de Polícia, afirmou que os perfis dos dois adolescentes nas redes sociais exibiam referências explícitas a jogos de teor extremamente violento, como o controverso “The Coffin of Andy and Leyley”, que envolve irmãos codependentes cometendo assassinatos em série. O game é proibido em alguns países e, embora o casal não o jogasse, consumia conteúdo sobre ele no YouTube.

A investigação também revelou que o garoto usou uma arma pertencente ao próprio pai, um colecionador, atirador e caçador (CAC). O pai, inclusive, teria ensinado o filho a manusear a arma de fogo, o que facilitou a execução do crime. Segundo a polícia, o adolescente agiu de forma fria e calculista, cometendo os assassinatos à noite, enquanto a família dormia.

Após o crime, o garoto enviou à namorada fotos dos corpos ensanguentados. Em uma das mensagens, ele disse: “Matei meu pai”. A jovem respondeu: “Atira nela agora”, referindo-se à mãe. Segundo os investigadores, a adolescente o instigou durante toda a ação e sugeria que ele demonstrasse ser "homem" para que pudessem se encontrar pessoalmente.

Os dois se conheceram por meio de jogos online há cerca de seis anos, quando tinham apenas oito anos, mas o relacionamento ficou mais intenso no último ano. A distância impedia o encontro, o que gerou tensão entre o casal. A jovem chegou a condicionar a continuidade do namoro a um encontro presencial. Para isso, o adolescente planejou matar a família e usar o dinheiro do FGTS do pai para financiar a viagem até Água Boa (MT), onde a adolescente mora.

Segundo a polícia, os adolescentes também discutiram como poderiam encobrir o crime. Falaram em colocar a arma na mão do irmão caçula para simular um acidente, e cogitaram dar os corpos aos porcos. Em mensagens, chegaram a considerar matar a avó do garoto, mas desistiram com receio de chamar atenção demais.

Mesmo após os assassinatos, o casal trocou mensagens românticas e brincadeiras. Em uma das conversas, a garota escreveu: “Nunca pensei que alguém faria isso por mim”.

A jovem foi apreendida na segunda-feira (30) em Mato Grosso e está à disposição da Justiça. Já o garoto está internado no Centro de Socioeducação (CENSE) de São Fidélis desde 19 de junho. Ambos podem ficar internados por até três anos, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O caso provocou comoção em Itaperuna e reacendeu o debate sobre a influência de conteúdos violentos na internet, a responsabilidade dos responsáveis legais no acesso a armas de fogo, e os riscos de relacionamentos virtuais sem supervisão familiar.

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