Coluna

Dream Big

Chicago, dia dois de agosto, cinco e quarenta e cinco da manhã. Três anos se passaram da minha última vinda nos Estados Unidos. Hoje, é o penúltimo dia de um sonho que começou a ser elaborado há um ano atrás, junto com uma amiga da época do coral que cantei na adolescência.

Em Chicago, venho com o mesmo propósito da primeira vez que estive nos EUA aos 15 anos: fazer música. Sendo que agora, não sou mais a adolescente de 15 anos. Agora, os meus alunos que têm 15 anos…

Primeiro dia de aula na Biblioteca de Oak Park, somando a turma da manhã com a da tarde, um total de 50 alunos, com idades que variam de 7 a 15 anos.

Criança e jovens com suas histórias de vida totalmente desconhecidas entre eles, e claro, para mim. A maioria das crianças olham para mim com a cara de “Quem é essa brasileira branca, que veio lá do outro canto do mundo para achar que vai me ensinar algo?”

Num canto da sala, uma menina bem retraída tira da mochila uma fronha, que ela mesma pintou, onde está escrito “DREAM BIG”, ela me mostra e eu peço para tirar uma foto.

Essa mesma menina se divide em momentos de muita participação nas aulas e em momentos de extrema carência afetiva, onde ela me agarra o braço e pergunta: – Onde você vai sentar? (Ela rapidamente senta ao meu lado)

Sua voz é linda, cristalina, muito afinada e ela se empenha para cantar músicas africanas e brasileiras.

As aulas terminam, nove dias se passam e meu primeiro passeio turístico é conhecer o famoso prédio John Hancock, com sua vista 360 ° da cidade e algumas janelas que vão virando pra baixo, com o turista segurando em duas barras de ferro – praticamente um exame de labirinto, ao meu ver.

Admirar a vista – check

Ser uma daquelas pessoas agarradas naquele ferro, se imaginando cair – para quem tem fobia de altura tem coisas que nem o Mastercard paga. (No check)

Resolvo dar uma volta na lojinha, e, entre canetas, copos e camisas da cidade do vento, me chama atenção uma pulseira escrita: DREAM BIG.

Logo me recordo da garotinha do primeiro dia de aula, de todo ensinamento que também levo daqui e do meu maior propósito nessa viagem: fazer com que, através da música, esses alunos sonhem grande. A história clichê, mas verdadeira de que a música transforma e une todas as pessoas numa só linguagem.

Dia 23 de julho, foi aniversário do compositor Flávio Venturini que canta uma canção que diz “…sonhos não envelhecem”…

Talvez um dia, eu volte aqui e encontre aquela mesma garotinha com seu grande sonho e cante essa música para ela. Cante essa música para todos, que já não serão tão jovens assim, mas seus sonhos sim. 

Amanhã volto para o Brasil. Comigo, levo no braço, praticamente uma aliança escrita “DREAM BIG “. Na alma e no coração, levo a certeza de que fiz diferença na vida desses 50 alunos e deixei, em cada criança e adolescente, mais um grande sonho. Seja ele qual for.

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