Coluna

Da reforma trabalhista

Em umambiente onde pelo menos o empresariado estáconvencido de queépreciso fazer com urgência areforma das leis trabalhistas, as declarações do eminente presidente da entidade maior da indústria, CNI, Robson, de que  precisamos trabalhar 80 horas semanais e do  ilustre desconhecido ministro do trabalho, de que a jornada diária pode ser de 12horas, atrapalham qualquer negociação. Ambas as declarações, desastrosas, inconsequentes e sem fundamento, foram desmentidas em seguida a forte reação pública. Mas, pasta de dente, uma vez saída de tubo, não volta mais. Assim, desmentidas ou não, pela teoria do Freud, houve a intenção inconsciente, que veio àsuperfície se expressar, de que no fundo as pessoas pensam assim mesmo. O estrago está feito.

Com o país tendo mais de12 milhões de desempregados, e sem perspectiva de a economia crescer (o que não quer dizer que crescimentoprovoque aumentoautomático de emprego), temos um problema mais do que sério  nessaárea. Acreditar que a mudança de legislação, hoje realmente inadequada para o país ser justo e desenvolvido, por si só resolve todas as mazelas  de competitvidade das empresas e de desigualdade social, é pura enganação! Todas pessoasde boa fé sabem que há mais razões para atingir esses dois requisitos para o Brasil se tornar um gigante nos campos econômico e social.

Na macro-esfera, falta não um projeto do empresariado, mas uma liderança que seja capaz de primeiro reunir todo o empresariado em um projeto só, e não só um segmento empresarial como aindústria, e no segundo momento, capacidade de diálogo. De negociação com os russos, como disse o genial Garrincha  ao técnico Feola na Copa doChile, antes do jogo da ainda seleção canarinha contra a então poderosa União Soviética.

Seo empresariado não tem um projeto  único que convença os líderes dos trabalhadores (enão esqueçamos que o partido dos trabalhadores esteve no poder 13 anos e tem forte representação no Congresso), não tem projeto! Nenhum político vai votar um projeto que estejacontra a absoluta maioria dos seus eleitores,que não são empresários, mas trabalhadores, muitos hoje desempregados, com esperança de serem empregados amanhã.

Mas, as reformas não estão só nonível da CLT. Na verdade, o diálogo  entre os envolvidos pode começar entreos sindicatos. Não precisa dialogar só sobre a convenção coletiva, mas sobre como melhorar as relações de trabalho.Ter projetos comuns e incluir a justiça do trabalho. E talvez até  políticos.

Fugindo a esse dialogo, e com entidades sindicais mais preocupadas emmanter o status quo dos seus dirigentes do que com o bem estar dos seus associados, corremos a curto prazo um perigo de desordem social através de protestos, manifestações e greves, que só vai aprofundar a crise econômica. Aliás, na hora danegociação, emboca fechada mosca não entra. E a hora é de negociar, negociar, negociar..... Tem líder empresarial para isso? Não sei, talvez seja hora de surgir!

STEFAN SALEJ
Empresário
Ex Presidente do SEBRAE  e da FIEMG  Federação das Industrias de Minas Gerais

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