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JORGE BRAGA, O 'FILHO' DO ZIRALDO

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Rio de Janeiro - Eu já conhecia o trabalho de Jorge Braga do ‘Pasquim’, dos anos 70. Recentemente, tive a honra de dividir com ele - e outros bambas - as páginas do livro ‘90 Maluquinhos por Ziraldo’, editado pela Melhoramentos e organizado pelo cartunista Edra.

Ontem, recebi, com tristeza, a notícia de sua morte, em Goiânia, aos 68 anos. O cartunista Jorge Braga foi se juntar a Ziraldo, de quem era amigo e com quem trabalhou no Pasquim, na década de 70. “Ziraldo dizia que eu era um filho que ele tinha em Goiás. Uma vez, me enviou uma foto de quando ele tinha 20 anos de idade e comparou com a minha, também jovem. E disse: ‘Viu como a gente é parecido?’ E realmente éramos. Já o Henfil dizia que eu era o irmão.” - contava, orgulhoso.

A amizade com Ziraldo começou em 1973, quando o pai do Menino Maluquinho foi a Goiânia para ser jurado do Festival Comunicasom, evento musical promovido pelo jornalista Arthur Rezende. Depois do evento, Arthur, Ziraldo e Braga foram jantar no bar Senzala, que ficava atrás do Teatro Goiânia.

“Eu cheguei lá, menino ainda, com um monte de pastas com os meus desenhos. O Arthur nos apresentou e o Ziraldo foi muito generoso comigo. Ele estava com a primeira esposa dele, a Vilma, e me recebeu na mesa. Mostrei meus trabalhos e ele me tratou com toda a educação, com todo o cuidado e me deu muitas dicas de como melhorar e firmar meu traço, conselhos que guardei para a vida inteira. Nasceu ali uma proximidade que nunca mais desapareceu. Quando fazíamos festivais de humor aqui em Goiás, ele sempre vinha. E me ligava antes avisando, 'Olha, você vai andar comigo aí'. Eu o levava para onde quisesse. Uma consideração que era mútua. Uma vez ele me entregou a chave do apartamento dele no Rio de Janeiro num período que passou fora”.

Jorge dos Reis Braga nasceu em Patos de Minas, Minas Gerais, em 1955. Começou sua trajetória nos jornais ‘A Benção’ e ‘Jornal dos Municípios’, aos 13 anos de idade. No início da década de 1970, mudou-se para Goiás, onde consolidou sua carreira como um dos mais importantes cartunistas do país.

Ao longo dos anos, colaborou com veículos como ‘Cinco de Março’, ‘Folha de Goiás’, ‘Opção’, ‘Diário da Manhã’, ‘O Popular’ e ‘Jornal do Tocantins’. Também foi editor de arte em emissora de televisão, além de atuar no teatro, promover festivais de humor e apresentar shows humorísticos.

O talento de Jorge Braga era imenso. Poderia ter feito sucesso na “corte” — São Paulo e Rio — e chegou a receber convites. Mas optou por ficar na “província”, onde, de alguma maneira, era o “rei” dos cartunistas.

Ainda assim, seu trabalho ultrapassou fronteiras e chegou a publicações como ‘O Globo’, ‘Jornal do Brasil’, ‘Pasquim’, ‘Correio Braziliense’, ‘Jornal de Brasília’, ‘Revista Veja’ e até ao ‘The World News’, de Orlando, nos Estados Unidos.

Braga que era membro da União Brasileira de Escritores de Goiás e da Associação Goiana de Imprensa (AGI), marcou gerações com seu traço inconfundível e atuação de destaque no cenário dos quadrinhos e das charges. Atualmente, ele publicava charges diárias no jornal 'O Popular'.

Com forte influência do traço do mestre Ziraldo, criou personagens que se tornaram conhecidos pelos goianos: Super Badião (vendedor de pequi da Praça do Bandeirante), Romãozinho (alter-ego de sua infância) e Perebão (herói tipicamente brasileiro que luta contra o crime e contra o sistema). Seus personagem ganharam as primeiras revistas em quadrinhos de Goiás: ‘Badião e Romãozinho’. O artista também editou o primeiro livro de charges sobre a criação do estado do Tocantins, intitulado 'Palmas e Vaias'.

Com seu jeitão afável e brincalhão, era adorado pelos amigos. Era muito difícil encontrá-lo de mau humor. Apreciava beber com os amigos, sempre contando piadas e rindo de tudo e de todos.

Em 22 de setembro de 1994, seu nome foi eternizado na Gibiteca Jorge Braga. Inaugurada em homenagem ao artista, o espaço, localizado no Centro Cultural Marietta Telles Machado, na Praça Cívica, se consolidou como referência para a cultura nerd e a formação de leitores, contando hoje com quase 20 mil títulos disponíveis ao público.

Jorge dos Reis Braga, faleceu na manhã desta terça-feira (1/7), aos 68 anos, em sua casa em Goiânia. O cartunista estava com enfisema pulmonar e câncer de pulmão, segundo familiares.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), destacou que "Embora não fosse goiano de nascimento, Jorge Braga há muito se consolidou como uma das maiores personalidades culturais da história de Goiás. Foi um artista que, como poucos, retratou com humor e crítica refinados os principais acontecimentos das últimas cinco décadas; da política ao esporte, passando pela cultura e comportamento".

Ediel Ribeiro (RJ)

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Ediel Ribeiro é carioca. Jornalista, cartunista e escritor. Co-autor (junto com Sheila Ferreira) do romance "Sonhos são Azuis". É colunista dos jornais O Dia (RJ) e O Folha de Minas (MG). Autor da tira de humor ácido "Patty & Fatty" publicadas nos jornais "Expresso" (RJ) e "O Municipal" (RJ) e Editor dos jornais de humor "Cartoon" e "Hic!". O autor mora atualmente no Rio de Janeiro, entre um bar e outro.

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