Governo avalia rompimento de relações militares com Israel diante de ofensiva em Gaza
Parlamentares pedem sanções; Executivo estuda suspensão de contratos e reforça posição humanitária

Brasília - O governo brasileiro estuda o rompimento das relações militares com Israel como resposta à escalada da violência na Faixa de Gaza. A medida, considerada uma alternativa viável ao rompimento diplomático, foi confirmada pela Assessoria Especial da Presidência da República e visa alinhar a atuação do país aos princípios humanitários e ao direito internacional.
Na quarta-feira (11), o assessor-chefe para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, recebeu cerca de vinte parlamentares e lideranças civis no Palácio do Planalto. O grupo solicitou que o governo tome medidas mais firmes contra Tel Aviv, incluindo sanções e a suspensão de contratos comerciais e militares.
O governo já havia cancelado, no início deste ano, a compra de blindados israelenses que seria realizada pelo Ministério da Defesa, em função da situação em Gaza. A possibilidade de romper relações diplomáticas, contudo, é tratada com cautela, por envolver riscos aos brasileiros que vivem na região e pela necessidade de manter canais de diálogo.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN), que liderou a articulação do encontro, destacou a urgência de uma resposta concreta.
“Simplesmente, um extermínio que está sendo televisionado. O presidente Lula já denunciou o genocídio desde o início, e viemos pedir que o Brasil tome medidas efetivas, adote sanções respaldadas pelo direito internacional. É desumano”, declarou em rede social.
Também participaram da reunião representantes da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), que entregaram ofício com dados sobre o número de vítimas e a destruição em Gaza. Segundo a entidade, há indícios de crimes de guerra e limpeza étnica.
Apoio de sindicatos e movimentos internacionais
A pressão também parte de setores sindicais. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) divulgaram carta aberta pedindo que a Petrobras interrompa a venda de petróleo a Israel.
“Hoje, é evidente a necessidade urgente de um embargo global total de energia e armas para frear o genocídio, além de desmantelar o apartheid e a ocupação ilegal por Israel. Exigir a responsabilização por crimes de guerra é um dever moral e legal de todos os Estados”, dizem as entidades em nota conjunta.
O movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), liderado por palestinos, também é citado por lideranças brasileiras como modelo de resposta internacional. O BDS pede sanções econômicas e diplomáticas contra Israel desde 2007, em razão do bloqueio à Faixa de Gaza e da ocupação da Cisjordânia.
Israel, por sua vez, classifica o BDS como uma ameaça à sua soberania e considera que o movimento tenta deslegitimar o Estado israelense no cenário internacional.
Próximos passos
Em entrevista ao Estadão, Amorim declarou que o debate foi “franco e construtivo” e que o Brasil mantém “compromisso inabalável com solução diplomática dos conflitos, baseado no direito internacional e no respeito às resoluções da ONU”
Ele reforçou haver “vários passos adicionais” possíveis, principalmente em acordos militares, mas ressaltou que “não cabe a mim anunciar; cabe ao chanceler Mauro Vieira anunciar quando houver decisão”
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