Produção de cachaça cresce quase 30% em 2024, mas setor ainda enfrenta preconceito e cobra igualdade tributária

Brasília - A produção de cachaça no Brasil vem avançando de forma expressiva, mas ainda convive com barreiras culturais e estruturais. Em 2024, o país produziu mais de 292,4 milhões de litros da bebida, o que representa um crescimento de 29,58% em relação ao ano anterior. Os dados fazem parte do Anuário da Cachaça, divulgado na quarta-feira (28) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em parceria com o Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) e outras entidades do setor.
O levantamento apontou um aumento significativo no número de produtos registrados: 7.223 rótulos, alta de 20,4% em comparação com 2023. Todas as regiões do país apresentaram crescimento no número de estabelecimentos regularizados, com Minas Gerais liderando o ranking com 501 unidades, seguido por São Paulo (179), Espírito Santo (81) e Santa Catarina (73). O Ceará se destacou com o maior aumento proporcional, passando de 34 para 47 registros, crescimento de 38,2%.
Cid Faria: exemplo de empreendedorismo com sabor mineiro
O mineiro Cid Faria, de 61 anos, é um exemplo de como o setor tem se expandido com base em pequenos produtores. Depois de abandonar a pecuária e a piscicultura, ele decidiu investir em uma antiga paixão: a cachaça artesanal. Há oito anos, transformou um galpão na comunidade da Fercal, no Distrito Federal, em um alambique familiar, produzindo cachaça prata, sem envelhecimento em madeira.
O negócio familiar cresceu: de 1 mil litros por ano, a produção saltou para 10 mil litros em 2024, conquistando 10 prêmios nacionais. “Trabalhar com a cachaça foi uma forma de valorizar a tradição e garantir renda para a família”, conta Cid.
Setor emprega e sustenta famílias, mas pede igualdade
Durante o lançamento do anuário, representantes do setor destacaram a importância econômica da cachaça, que gera mais de 600 mil empregos diretos e indiretos no Brasil. No entanto, eles também denunciaram a alta carga tributária e o preconceito que ainda recai sobre a bebida tipicamente brasileira.
“É um setor que gera hoje mais de 600 mil empregos, diretos e indiretos. São produtores espalhados de norte a sul do Brasil”, afirmou o presidente do Ibrac, Carlos Lima.
Segundo Lima, grande parte dos produtores são micro e pequenas empresas rurais, responsáveis por manter a população no campo e movimentar economias locais. Ele também criticou a desigualdade tributária entre bebidas alcoólicas no país.
“É um setor que sofre com uma alta carga tributária. Todas as bebidas alcoólicas deveriam ter o mesmo tratamento”, defende.
Outra queixa frequente é a regulamentação mais rígida da publicidade de destilados em comparação com bebidas de menor teor alcoólico, como a cerveja.
“São produtores de áreas rurais com uma matéria-prima que é 100% nacional, que é a cana-de-açúcar”, enfatizou.
O setor de cachaça aguarda maior reconhecimento como patrimônio nacional e exige apoio institucional mais sólido, tanto na promoção quanto na regulamentação da produção e comercialização da bebida.
Comentários