Ouro Preto (MG) - A cidade histórica de Ouro Preto foi, mais uma vez, palco da tradicional cerimônia da Medalha da Inconfidência, realizada nesta segunda-feira (21). O evento, promovido pelo Governo de Minas Gerais, celebrou figuras e instituições que contribuem para o desenvolvimento do estado e do Brasil, além de prestar uma emocionante homenagem ao Papa Francisco, falecido no mesmo dia.

Neste ano, 171 personalidades foram condecoradas nas quatro categorias da honraria: Grande Medalha (40), Medalha de Honra (58), Medalha da Inconfidência (72) e o Grande Colar – esta última, reservada a chefes de Estado e líderes dos poderes da União.

O destaque da edição de 2025 foi a entrega do Grande Colar ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), que assumiu o cargo em 2024 aos 34 anos, tornando-se o mais jovem a comandar a Casa Legislativa. Motta, em seu discurso, exaltou o legado dos inconfidentes e a importância de um país justo, que saiba valorizar sua própria riqueza. “Sonhavam com liberdade, mas também com justiça. Com um país que se beneficiasse da própria produção”, declarou.

Cerimônia marcada pelo luto e pela tradição

A solenidade deste ano foi diferente. Em sinal de respeito ao falecimento do Papa Francisco, decretado luto oficial em Minas, a cerimônia foi adaptada: o Hino Nacional não foi executado, as bandeiras foram hasteadas a meio mastro e um minuto de silêncio foi realizado na Praça Tiradentes. O pontífice morreu aos 88 anos, após sofrer um AVC, segundo informações confirmadas pelo Vaticano.

“Mais que um líder religioso, o Papa Francisco foi um símbolo de esperança, simplicidade e justiça social”, declarou o governador Romeu Zema em seu discurso. A cerimônia também contou com honras militares, como a salva de 21 tiros e a colocação de flores no monumento a Tiradentes.

Tradição e tensões políticas

Criada em 1952 por Juscelino Kubitschek, a Medalha da Inconfidência é concedida sempre em 21 de abril, dia da morte de Tiradentes, herói da Inconfidência Mineira. Nesse dia, a capital simbólica de Minas é transferida de Belo Horizonte para Ouro Preto, em respeito à memória do movimento do século XVIII que reivindicava liberdade e autonomia para o Brasil.

Mas nem só de homenagens foi feita a cerimônia. Enquanto discursava na Praça Tiradentes, o governador Zema foi vaiado por servidores públicos e manifestantes que protestavam contra a política salarial do estado. Gritos como “Zema caloteiro” e “Fora Zema” ecoaram durante o evento.

O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, aproveitou sua fala para fazer uma crítica velada ao governo estadual, ao afirmar que “a celebração da Inconfidência é uma vacina contra o fascismo”, reforçando o papel da memória histórica na defesa da democracia.