Zelenskyy defende “paz pela força” e cobra Europa nas negociações sobre a guerra
Presidente ucraniano diz que deixaria o cargo em troca da entrada do país na OTAN, enquanto EUA e Rússia avançam em diálogo sem participação europeia
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Belo Horizonte - No terceiro aniversário da invasão russa à Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelenskyy reafirmou, nesta segunda-feira (24), que a paz só será conquistada por meio da força, da unidade e da cooperação internacional. O líder ucraniano discursou diante de autoridades europeias, como o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, e o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, criticando a exclusão da Europa das recentes negociações entre Estados Unidos e Rússia.
“Putin não nos dará essa paz em troca de algo. Devemos alcançá-la por meio da força, da sabedoria e da nossa cooperação com vocês”, declarou Zelenskyy, destacando que a guerra, embora travada na Ucrânia, representa uma ameaça ao modo de vida europeu. “A segurança e o destino da Europa não podem ser decididos sem a presença europeia na mesa de negociações.”
A fala do presidente ucraniano ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, abrir negociação diretamente com o presidente russo Vladimir Putin, sem a participação de Kiev ou da União Europeia. A medida alarmou aliados ocidentais, que temem uma solução negociada à revelia da Ucrânia.
Renúncia em troca da OTAN
Ao ser questionado sobre a possibilidade de deixar o cargo como parte de um acordo de paz, Zelenskyy afirmou que só renunciaria se a Ucrânia garantisse sua adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A intenção do país de ingressar na aliança militar ocidental foi uma das justificativas usadas pelo Kremlin para invadir o território ucraniano em 2022.
No discurso desta segunda-feira, Zelenskyy reforçou que a entrada na OTAN é essencial para garantir a segurança da Ucrânia. “Se a adesão continuar fechada, não teremos outra escolha senão construir a OTAN dentro da Ucrânia”, afirmou, referindo-se ao fortalecimento militar do país com o apoio de aliados ocidentais. Atualmente, Kiev já possui 28 acordos bilaterais de segurança com nações parceiras, reforçando sua defesa contra a ofensiva russa.
Uma Europa isolada?
A postura dos EUA sob Trump reflete uma mudança na política externa americana. Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, Washington tem sido o principal fiador da segurança europeia por meio da OTAN, mas essa relação vem se desgastando. Recentemente, Trump declarou que os países europeus devem pagar por sua própria defesa, abrindo caminho para negociações diretas entre os EUA e a Rússia, excluindo os aliados históricos da Casa Branca.
Para o ex-senador italiano e especialista em geopolítica José Luís Del Roio, a nova postura de Washington reflete uma reestruturação do capitalismo norte-americano. “O que está em jogo não é apenas a guerra na Ucrânia, mas a mudança no equilíbrio de poder global. Se essa alternativa é boa ou ruim para os EUA e para o mundo, veremos nos próximos anos. Mas, por ora, a Europa está órfã”, analisou.
Enquanto isso, as tropas russas continuam avançando em diversas frentes, e a Ucrânia enfrenta desafios logísticos para manter sua resistência. O governo de Zelenskyy aposta na mobilização militar e no apoio contínuo do Ocidente para evitar que Moscou imponha seus termos em uma eventual negociação de paz.
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