Juiz de Fora (MG) - Algumas vezes fico pensando sobre a solidão e imagino que nós somos solitários todo o tempo. Dentro de nós funciona um cérebro como se vivesse dentro de um universo todo particular, um mundo à parte do mundo externo, mas também um mundo real com suas lembranças que foram vividas na realidade, no mundo externo, convivendo com a imaginação, um mundo fictício, irreal e pleno de realizações que somente são possíveis dentro daquela parte deste universo, com sua linguagem particular e cheia de significados para nós mesmos.
Este universo se confronta com outros universos e com o mundo real, algumas vezes inimigo ou amigo, outras vezes ou muitas vezes de um lugar que a gente quer fugir.
Este cérebro evolui e aprende com o tempo e se torna mais forte, mais preciso, mais cauteloso com o mundo externo, e também com aquilo que ele pensa, imagina, quer algumas vezes externar para o mundo e, muitas vezes, quer esconder do mundo tudo aquilo que ele pensa.
Neste universo ele é revolucionário, mas também é preconceituoso, cheio de defeitos, guarda boas recordações e também ressentimentos do mundo externo, tem amarguras, angústias, alegrias e comemorações. Guarda segredos que nunca serão revelados ao mundo externo e o mundo apenas desconfiará dele.
À medida que ele afia sua inteligência ele também rumoreja preconceitos e se fortalece, cresce e parece que não cabe dentro de si. No entanto, aquele que o leva para lugares, fisicamente distantes, onde ele pode ver coisas novas e expandir sua imaginação, este instrumento, o seu corpo, não o acompanha. E, em vez de fortalecer junto, ele diminui sua resistência e logo não é mais o companheiro inseparável, pronto para viver aventuras. Porque o corpo cansou, cansou de fazer o trabalho pesado de transportar aquela biblioteca que acumula recordações e vivências.
Essa talvez seja a maior solidão. Um tipo de prisão inconsciente de quem olha a vida com ânsia e não vai poder aproveitá-la. Somos seres solitários até porque temos a exata noção de que tudo acaba. Somos passagem porque, simplesmente, passamos e damos um alô para a vida que vai continuar.
Essa noção de realidade transtorna a nossa própria vida. Alguns desistem da sala de aula e não terminam a lição, e se despedem mais cedo. Acabam com a própria solidão e desistem de tentar entender como funciona esse viver.
Solidão é imaginar que vivemos em uma prisão. Talvez a alma, esse espírito que é um sopro que nos dá a vida, seja a única sobrevivente, porque alma é sussurro, é vento que não venta, uma nuvem que levará para algum lugar tudo o que nossa imaginação guardou. Haverá outra solidão para viver? Ou vamos entender o que, realmente, é viver sozinho.
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